quinta-feira, julho 19, 2007

Olhava para o papel em branco e não se decidia sobre o escrever...fazia dias que dormia e sonhava com o mesmo pedaço de sonho...o lugar estava devastada, e enquanto se via agachado, olhava para baixo e segurava a mão de alguém que o rosto não reconhecia...

Tudo era azul, mas o vermelho era vivo, e a blusa desse alguém era vermelha...podia lembrar de cada detalhe...da cor do cabelo...da cor dos olhos...quantas pintas tinha no rosto, e até o detalhe da pedra no anel que tinha no dedo da mão direita....

Mas não conseguia imaginar onde teria visto aquele rosto...e porque sonhava insistentemente com ele, já há tantos dias...

Precisava se concentrar no texto...era dali que iria sair seu sustento de todo dia, mas não conseguia pensar...não conseguia se concentrar mais, e tudo o que queria era sonhar...quem sabe hoje, ela lhe diria seu nome...e poderia recordar de onde tinha visto aquele rosto...

O que andava esperando da vida...fazia as coisas mecanicamente...e uma das únicas coisas que o agradava era ouvir suas canções preferidas, e sonhar...sonhava...sonhava acordado todos os dias...

Pensava que poderia viver outra realidade...já que as coisas mecânicas tinham tomado conta de seu corpo...não havia mais prazer em nada...mais ainda assim caminhava...

‘O mundo não pára’...dizia a si mesmo todos os dias, quando o que mais queria era que ele parasse, pra ele ver tudo o que não via, pelo menos por hora...

A cada momento que fechava os olhos, pensava...lembrava do rosto...lembrava que a cidade estava destruída...por um instante tinha a sensação de que o fim de tudo estava ali....

Tudo parecia caminhar em câmera lenta...e as pessoas, pareciam ter saído de filmes mudos e esquisitos....não havia cor naquele mundo...não havia cheiro, nem sabor...

Finalmente a noite tinha chegado, e era a hora...hora de sonhar novamente...

E enquanto o sonho se repetia...ele via, que era a hora das perguntas...era a hora de entender porque se repetia tanto aquele sonho...e numa atitude desesperada de não acordar gritou...e segurou nas mãos da menina de blusa vermelha...

De repente, um estalo alto e um impacto...olhou pra si, e viu uma mancha, enquanto o sangue escorria pela camisa...manchando também sua pele...

Ofegante já e ouvindo insistentemente seu coração bater forte e cada vez mais espaçado em seus ouvidos, viu a menina de vermelho chorar...e por nenhum motivo, chorou também...

Ouvia de longe as bombas explodirem, a terra tremer, e tudo começava a ficar escuro e difuso...quando ouviu dela que tinha vindo lhe buscar...para um lugar longe...onde poderia nunca mais sentir dor...mas tinha sido tarde talvez...

E em meio a soluços e dor, viu o mundo parar, por um instante, para sempre...

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