quinta-feira, dezembro 31, 2015

Let my spirit pass

Vamos recapitular?
2015 foi um ano cheio. Cheio de boas notícias, boas realizações, boas companhias, boas vibrações. Não foi um ano como os outros. As dificuldades me deram aperto no peito, vontade de desistir, vontade de sumir e ir a outro planeta. Mas toda vez que as más notícias ou as noites em que eu fechava os olhos sem ao menos tirar a roupa do dia anterior, acordando com a maquiagem borrada e a cara de que um caminhão tinha me atropelado em qualquer estrada da vida, eu olhava pro espelho e dizia a mim mesma: vai fia, você consegue. E eu consegui, ter os melhores momentos com a minha família, com os meus amigos, comigo mesma por muitas ocasiões diferentes.
Ensinei a mãe a mexer no facebook, abracei o pai pra cantar 'Shine On Your Crazy Diamond', tomei as melhores cervejas do mundo com meu irmão, abracei e tirei fotos com as sobrinhas e sobrinhos mais lindos que a vida me deu (inclusive na maratona festival!), abracei a cunhada apertado e chorei junto com ela, vi meus amigos todas as vezes que pude e amei cada momento das risadas que dei com eles, os de perto, os de longe, os que não via há muito tempo e os que eu conheci esse ano. Fiz três tatuagens de uma vez, perdi 13kg, me virei em dez pra fazer três turnos no serviço, pisei na areia da praia e mandei tudo de ruim pro mar, vi todos os shows possíveis, batendo as melhores metas desse ano, enquanto as lágrimas caiam em cada um deles, fazendo deles os melhores momentos desse ano, coloquei a cabeça no lugar toda vez que peguei a estrada com a música alta pra não dormir. Fiz o Mark Lanegan sorrir pra foto, abracei o Mike Mccreaddy e vi o Eddie Vedder de pertinho. Se eu podia ter feito mais? Com certeza podia. Mas tudo isso me bastou. Esse ano eu fui genuinamente feliz. 2016, vem logo, meu filho!

segunda-feira, dezembro 28, 2015

"No meio da festa o mais inesperado aconteceu, Alice conversava com Doug, Pete e seus amigos, quando pela porta Matthew entrou. Só Deus sabia o que ele fazia ali, porque não tinha o convidado. Provavelmente o próprio Pete tivesse.
Meu coração pulou na garganta e perdi o chão. Sabia que aquela presença abalaria Alice e tiraria qualquer possibilidade remota que eu tivesse de trazê-la de volta a minha vida, como quando a conheci.
Era inútil competir com um homem como Matthew. Principalmente quando uma garota tinha se encantado tanto por ele, como ela. Não era a mim que ela amava.
Mesmo querendo tirá-la dali, pra que ele não a visse e ela também não, eu mal conseguia me mover quando ele se aproximou de mim pra me cumprimentar. Por mais raiva que eu tivesse dele, eu não podia e não devia me meter.
Eu queria que ela ficasse só comigo. Eu queria tirá-la dali. Queria tantas coisas e tinha tantos ciúmes que não podia nem mensurar. Não queria mais vê-la sofrer. Não queria ver ele próximo dela. Mas queria vê-la feliz.
Quando Alice o viu chegando próximo a ela, ficou surpresa. Eu olhava só de longe, ouvindo alguém que não me recordo falar comigo. Nos olhos dela tinha algo que eu nunca tinha lhe produzido, uma admiração.
Ele a cumprimentou e se sentou ao lado dela. E conversaram. Eu via Alice lhe evitar os olhos e apertar as mãos, da mesma maneira desconfortável que eu fazia quando ela estava por perto. Meu coração doía, mas Matthew não se afastava dela, por nada.
Eu a tinha perdido. Tinha perdido minha menina ali, definitivamente. Eu não tinha nenhuma chance. Sabia disso desde o começo. Mas ver aquilo era muito devastador. Ela o amava, eu sabia.
Um tempo depois Matthew se levantou e Alice se levantou logo em seguida, o seguindo, esquecendo completamente tudo que deixava pra trás. Quando ele saiu pela porta e ela foi atrás, meus olhos se encheram de lágrimas. Ela ainda me olhou antes de sair e eu sabia que ela ia embora novamente. Dessa vez, talvez, pra sempre.
Eu tinha que seguir minha vida. A minha menina se foi. O meu amor tinha ficado comigo."

terça-feira, dezembro 22, 2015

stay with him if you can, but be prepared to bleed



"Oh I am a lonely painter
I live in a box of paints
I'm frightened by the devil
And I'm drawn to those ones that ain't afraid
I remember that time that you told me, you said
Love is touching souls
Surely you touched mine
Cause part of you pours out of me
In these lines from time to time


Oh you are in my blood like holy wine
And you taste so bitter but you taste so sweet
Oh I could drink a case of you
I could drink a case of you darling
Still I'd be on my feet
And still be on my feet"


Joni Mitchell - A Case of You


A vida poderia doer menos, mas qual seria a graça de não ter tristes canções, melancólicas fotografias e uma lágrima escorrendo salgada pelo rosto? Há uma certa beleza no sofrimento, há uma sensação de paz na dor, há um certo conforto na solidão.

quinta-feira, dezembro 17, 2015

Hold me closer tiny dancer

Na roda da vida tudo gira devagar. O mundo caminha lentamente e um simples sorriso ou olhar já são suficientes para preencher o dia.
Se espero tanto algo acontecer sem ao menos agir, me sinto estupida. Mas se ajo sem ao menos pensar, me sinto patética.
Qual é o limite do que pode e do que não pode? O que devemos fazer pra sermos notados sem sermos ridículos?
O mundo continua girando lentamente e por mais que o percurso mude, ele tem um só fim e chega sempre no mesmo lugar.

segunda-feira, dezembro 14, 2015

Eu ainda acredito na vida e nas histórias que podem se tornar reais, mesmo sabendo lá no fundo que não deveria.

quarta-feira, dezembro 09, 2015

"I do love you, no matter how many years go by, you're still the man of my dreams. First you were my friend, someone who I could talk with. Now you are my confident. 
And there you were, with your arms wide open. Cheesy? Yeah, maybe. No one in this whole fucking world are bigger than you. You are a soulmate, lost in a thousand miles away. But, who cares? 
So when I close my eyes, my brain gets connected to yours.
Time will pass, life will change, but you, you will always be my dear. From here to the other side."

Let me sleep, it's christmas time... ;)

terça-feira, dezembro 08, 2015

Chega uma hora na vida que vai dando um nó naquelas vontades malucas que nem querendo se acha uma solução. É um looping infinito de querer e de sentir que se faz presente e que enche o peito de incertezas inseguras.

PS.: Feliz por reativar esse blog dessa maneira tão intensa.

domingo, dezembro 06, 2015

"Nothing left within, I've been mined
To hell and back again, subterraneanI've been digging in down insideI will start again, subterranean"
Foo Fighters - Subterranean

Are you there? Do you read me? I don't feel you anymore

Ontem acordei com a noticia de que mais uma pessoa dessas que fazem parte de nossas vidas, mas não estão presentes tinha feito a passagem pra algum lugar que ninguém sabe ao certo se existe. Quando vi o nome de Scott Weiland numa matéria da SPIN, dizendo que ele tinha falecido na noite anterior, não consegui acreditar, pensei: 'essa é pegadinha'.
Mas aí, ao rolar as outras matérias do Twitter, percebi que o que tinha acontecido era realmente verdade. Meu primeiro pensamento foi: 'era de se esperar, o vício carrega as pessoas pra longe dessa vida'. Mas depois aquilo tomou forma e corpo dentro de mim e estragou o resto do meu dia.
Vi o Scott em 2011 em uma tour de reunião com o Stone Temple Pilots. Muito enérgico e com uma presença absurda de palco, segurando uma galera embaixo de chuva, em um festival que celebrou os anos 90 de maneira magistral.
Uma semana antes tinha ido ver dois shows do PJ em São Paulo e logo em seguida, Chris Cornell, AIC e STP fechariam meu mês de novembro. Tenho uma recordação emocionante dos momentos de todos esses quatro shows. O de ficar amassada e não ver o PJ de perto, mesmo estando na pista, a poucos metros da banda, ver o Chris bem de pertinho, embaixo de chuva, cantando "Blow Up The Outside World", dançar louca na lama ao ouvir "Big Bang Baby" do STP também embaixo de chuva, ao lado de um outro louco que também dançava e acompanhava sozinho o show e de gritar ensandecida a plenos pulmões em "Man In the Box", longe do palco, mas de uma visão completamente privilegiada, dançando ensandecida na lama.
Me recordo também de coisas que estragaram esses momentos, mas com o tempo, a mente se encarrega de ir apagando o que é de ruim e jogando desesperos pra fora de nossas vidas, como se eles não existissem.
É estranho conhecer, ver, acompanhar e interagir na vida de alguém, mas não fazer parte da vida dela por nenhum momento. Dá aquela sensação de ser alguém de sua família, alguém próximo que convive com você há anos e de vez em quando participa de um momento importante da sua história.
Eu pensei em muitas coisas ontem. Pensei que o longo da vida a gente vai perdendo muitas coisas, ganhando muitas outras e acumulando lembranças. Pensei que perdemos tanto tempo com tantas besteiras e temos tão pouca paciência com outras que não aproveitamos tudo o que o mundo pode oferecer.
No fundo, vamos nos cobrindo cada vez mais, não deixando com que as pessoas não nos magoem e nos tornamos escravos de um jogo tão estúpido e tão mesquinho, que esquecemos que o fim é um só. E pra que sermos tão fechados em nós mesmos, tão absortos com nossos próprios problemas, se um dia se deita pra dormir e não se levanta mais?
O que leva as pessoas a serem arrogantes e cheias de si em suas tão grandes certezas? Pra que perdemos tanto tempo discutindo e tentando nos fazer entender, se nós mesmos temos dificuldade pra entendermos o outro ou aceitarmos que o outro só pensa diferente, não adiantando nada ficar discutindo por picuinhas.
Infelizmente, todos esses pensamentos se encaixam, mas na prática eles são bem pouco utilizados. A morte de alguém, seja ela próxima ou não, sempre me causa uma sensação arrebatadora, uma tristeza profunda de não saber o que vêm pela frente e como vêm pela frente.
Um querer que nunca aconteça, pra que eu não me sinta um ser humano perdido no espaço vazio de um futuro vago.

Descanse Weiland, de onde quer que você esteja. Que sua alma possa encontrar a paz, que todo ser humano busca: time to take a ride, it leaves today, no conversation.

quinta-feira, dezembro 03, 2015

"‘O que aconteceu?’
‘Não quero falar sobre isso’ – Alice parecia irritada, se levantou querendo sair da cama
‘Onde vai?’ – segurei de leve em seu braço, tinha medo até de machuca-la
‘Vou pra casa. Já te importunei demais. Vou ficar bem, eu prometo’
‘Não dei essa opção a você. Não pode andar, seus cortes dos pés estão quase abertos. Por que está irritada?’ – Alice queria fugir e não deixaria que ela fosse assim, sem nenhuma explicação
‘Não estou irritada. Não quero conversar. Conversar não adianta, não resolve nada...’ – Alice soava mais irritada
‘O que não resolve? Eu só quis saber o que te levou a se machucar’
‘Não quero falar, não vai resolver’
‘Como você quer que eu te ajude, se você não deixa?’ – porque ela não falava comigo, não me olhava nos olhos?
‘Eu não deveria ter vindo. Eu só atrapalho. Não sei o que me deu, vou...vou pegar um táxi’
‘Como vai pegar um táxi? Você viu como está? Deve ter uma causa! Por que é tão teimosa?’
‘Louis, não sou teimosa. Isso é resultado das minhas escolhas, eu vou achar uma solução’
‘Enquanto isso você se destrói e destrói tudo a sua volta?’ – eu já estava irritado, por que ela se escondia?
‘Não é nada disso...’ – ela respondeu já muito brava
‘Não? Contei suas costelas ontem! Se eu te segurasse com força poderia te quebrar!’ – e levantei a voz irritado, aquela não era a minha Alice!
‘Louis, eu posso...’
‘Pode, pode me explicar o que diabos está acontecendo?!?’ – e eu gritei, sem perceber
‘Louis, não...não fique bravo...’
‘Não estou bravo, só quero entender! Eu gosto de você! Gosto, entendeu?!? Gosto!’  - e daí que tinha falado, ela era tudo pra mim e olha como ela estava – ‘e você se afastou de mim e eu deixei, porque sou assim! Mas você veio até mim novamente e fiquei feliz e olha como eu te encontro! Acha que me sinto como?’ – eu gritava, puto
‘Eu não queria te incomodar com bobagens...’
‘Bobagens? Como você pode me dizer que o que eu estou vendo são bobagens?’
‘Louis, as circunstâncias, o tempo, a falta dele, o serviço, sua mãe doente, Los Angeles...’
‘Los Angeles. O que aconteceu em Los Angeles?’ – era isso, eu sabia
‘Nada, foi tudo bem em Los Angeles e Matthew foi bom pra mim e...’ – Alice começou a chorar, copiosamente. Eu sabia, só não queria enxergar
‘Se apaixonou por Matthew, não foi?’ – aquilo me corroía por dentro
‘Do que você está falando?’
‘De você e Matthew. Se apaixonou por ele, não foi? Eu conheço o amigo que tenho. Eu te conheço. Eu sabia. Fui besta em achar que Matthew...’ – e suprimi a resposta, ele tinha conseguido o que eu me podei. E aquilo fazia com que eu me sentisse um completo idiota. Sentia ciúmes, queria esganar Matthew
‘Louis, não é nada disso...eu e Matthew...’ – quando Alice gaguejou, tive mais certeza ainda
‘Não é, né? Me diz se não se apaixonou por ele? Me diz!’ – o meu sangue subia, pulava em mim
‘Louis, não é nada disso, eu não sei...’
‘Claro, não sabe! Acha que sou idiota? Você se afastou! Eu conheço Matthew! Eu...’ – e entrei no banheiro pronto pra socar alguém, puto da vida
‘Louis, porque diz isso? Eu vim te pedir ajuda...’
‘E eu te dou toda a ajuda do mundo!’ – porque sou um idiota e estou apaixonado por você – ‘mas não me esconda o que eu sei!’ – eu saia do banheiro, mais transtornado
‘Eu não tive culpa, eu juro, eu não tive culpa, me perdoe...’

Ela voltou a chorar. Atordoado e besta, me sentei ao lado dela, mesmo com raiva, mesmo magoado, não conseguia sentir nada a não ser amor, quando a vi chorar. Parecia uma menina novamente, frágil, sem ninguém. Lhe abracei. Eu nunca teria feito isso com ela.
‘Eu...não disse que teve culpa. Matthew não deveria...’ – ele não deveria ter seduzido uma garota de 18 anos, porque eu sabia quem ele era, sentia raiva dele e mais raiva ainda de mim
‘Liza está grávida, Louis. Grávida. Ele não vai...’ – e ela parou de falar
‘Não vai?’
‘Nada’ – Alice se afastou novamente, como se não quisesse me dizer nada mais
‘Me conte o que aconteceu, por favor...’ – eu merecia pelo menos uma explicação
‘Nada’
‘Alice, do que tem medo?’ – e ela me olhou, como se eu tivesse dito exatamente o que ela sentisse, medo
‘Eu me sinto mal. Já fiz de tudo pra esquecê-lo e não consigo’
‘Por que se sente mal?’
‘Porque aconteceu! Eu deixei acontecer! Deixei que ele se aproximasse de mim, flertasse comigo! E eu correspondi! E ele tem outra! Eu deixei tudo isso acontecer e não sei lidar com isso’ – como se fosse possível não ter deixado isso acontecer, ainda mais com quem
‘E ele continua com ela’ – era o perfil de Matthew, ele tinha outras, mas não largava de Liza, nem sei se largaria um dia, ainda mais agora com ela grávida
‘Isso! Por que deixei? Por que?’
‘Matthew é um cara atraente. Sou homem, mas sei disso. Ele também quis, não te passou isso pela cabeça?’ – e era óbvio que queria, Alice tinha 18 anos, praticamente um troféu nas mãos dele
‘Sim! Mas me sinto suja! Coloquei Daniel pra fora por causa de uma traição e eu não deveria ter deixado isso acontecer!’
Alice tinha desembestado a falar, como se as coisas estivessem presas nela há tempos e era a primeira vez que me contava detalhes de sua vida. Saber que outros homens tinham a ferido, me doía mais ainda.
‘E ela está grávida! Grávida!’ – ela falava inconformada
‘Se sente assim porque se apaixonou por alguém compromissado?’ – e a olhei surpreso
‘Não Louis, me sinto assim...’ – e ela me deu a resposta no olhar
‘Porque dormiu com ele...’
Uma dor se espalhava, aquilo não podia ser. Eu estava enlouquecido, não queria mais escutar. Era muito pra mim, muito. Não tinha como não sentir ódio naquele momento. E eu sentia tudo!
‘Você é uma garota! Matthew não tinha esse direito!’ – ele não tinha, eu não podia acreditar, não era mais ciúmes, era raiva que eu tinha
Ela era uma garota! Matthew tinha praticamente a minha idade! Ele deveria saber! Uma menina! Mas que idiota eu era! Que papel ridículo que eu me prestava! Me segurei pra não força-la a fazer nada que ela não quisesse, esperei um maldito sinal e nada! E ele com uma dúzia de frases que eu já conhecia, tinha levado ela pra cama?
Ela era uma adolescente! Óbvio que se apaixonaria por ele! Óbvio! Onde que uma adolescente ia ter uma noite casual como ele estava acostumado? Que burro, que imbecil! Eu queria simplesmente sumir!
‘Louis, me desculpe, eu não deveria ter dito nada, estou tentando lidar com isso sozinha e...’ -  e vamos ser práticos, porque não me restava mais nada!
‘E a bebida te ajuda? Mesmo você vendo o seu estado?’ – eu queria outra resposta, eu queria não saber de nada daquilo
‘Eu não penso, não sinto dor. Durmo. Não sinto falta dele. Você não entende...fui capaz de superar Daniel ter me estuprado e me abusado por semanas antes de separarmos, mas não consigo me livrar de Matthew...’
Meu mundo desabou por completo. O que eu ouvi não podia ser verdade. Olhei pra ela enquanto ela chorava, sem reação.
‘Você o que? Daniel fez o que?’ – e me sentei no chão, as pernas não me obedeciam, meu estômago revirava em cólicas, queria vomitar
‘Louis, aquela noite em que Daniel foi me buscar no estúdio, que te apresentei ele e que vocês conversaram...’
‘A noite que liguei pra sua casa várias vezes e você não atendeu...’ – abaixei minha cabeça a segurando nas mãos, ainda recordava do desespero daquela noite
‘Sim, aquela noite, Daniel me violentou, pela primeira vez...’
‘Meu Deus’ – pude me lembrar do dia seguinte vividamente, ela andando com dificuldade, as lágrimas nos olhos, ela fugindo de mim por dias e dias
‘Eu quis te contar tudo no dia seguinte e mesmo assim eu fugi. De você, de meus amigos. Ele me aterrorizava e dizia que me mataria, me abusando cada vez mais. Só consegui me separar dele porque peguei ele com outra mulher e Lex o botou pra fora’
‘Vai ficando cada vez pior. Onde está esse doente? Eu mato esse moleque...’ – meu Deus, o que estava acontecendo era surreal, eu sentia um misto de ódio com enjoo e o mataria se o visse, com minhas próprias mãos
‘Nunca mais vi Daniel. Cacá bateu nele uns dias depois que ele invadiu minha casa e ele nunca mais apareceu...’
‘Mais alguém sabe dessa história?’
‘Não. Nunca tive coragem de contar. Sempre senti muita vergonha disso’
‘Vergonha? Esse animal tinha que estar preso! Morto!’ – eu voltava a gritar, mais ensandecido
‘E ser deportada? Eu não podia tomar nenhum processo’
‘Meu Deus’ – eu não sentia meus pés ou mãos, meu corpo parecia formigar por inteiro
‘Eu superei tudo isso, sem dizer nada! E não consigo superar Matthew, há meses já. Ele tem outra e...’
‘Eu não sei o que te dizer. Eu não queria ter deixado nada disso acontecer’ – eu não conseguia olhá-la, não existia ser mais transtornado do que eu na face da terra naquele momento
‘Não é sua responsabilidade. Eu não deveria ter feito nada, não deveria ter deixado! Estou louca, doente, perdida, alcoolizada a maior parte do tempo...’
‘Não é sua culpa. Pode ser que seja minha. Achei que Matthew saberia o quanto você é diferente, nunca imaginei...’ – eu olhava pro chão, sem conseguir me mexer
Me sentia responsável por todas aquelas coisas. Se eu tivesse seguido meu instinto e a seguido aquela maldita noite que aquele moleque lhe buscou no estúdio. Se não tivesse lhe apresentado Matthew. Eu me sentia mais que um idiota, me sentia um lixo.
‘Não é sua culpa. Eu me apaixonei e não quero mais sentir isso’
‘E você encontrou alguém que não te julga...’
Alice ainda falou mais algumas outras coisas e sobre o que os seus amigos já tinham me contado no dia anterior e eu só me toquei o real motivo dela ter aparecido na minha porta enquanto olhava pros seus olhos.
‘O show...’ – falei sem pensar
‘Como você sabe?’
‘Porque ele me mandou um convite pra ir vê-lo tocar ontem, achei que te veria lá, ainda bem que veio até mim...’
Enquanto Alice falava, eu respondia maquinalmente as coisas, não me recordo muito bem do final da conversa, afinal, eu me sentia atordoado ao ponto de me bloquear, como sempre fazia. Aquilo tudo me soava como um grande pesadelo.
Pedi ainda que ela ligasse aos seus amigos e que viessem em casa pra jantar e pra que eles soubessem que ela estava bem. Mas tudo o que eu queria era sair dali e sumir, aquilo tudo precisava ser processado.
Pedi pra que me esperasse e sai de casa com o carro, parando uns dois quarteirões longe. Eu chorava e me debatia de desespero, aquilo não poderia estar acontecendo. Não comigo. E nem com ela.
Ainda voltei mais tarde e tomei conta dela, lhe dando comida e trocando seus curativos, lhe botando pra dormir. Lembro de seus amigos vindo jantar e eu os deixando sozinhos pra que conversassem.
Eu era um transtorno só, mesmo assim, mantive Alice em casa por uns dias, cuidando dela, como se eu fosse seu melhor amigo. Afinal, era só isso que eu era no fim das contas. Não conseguia me livrar do sentimento que tinha por ela, mesmo sabendo que ela não me corresponderia.
Eu era um adolescente idiota, com 34 anos. E mais apaixonado e solitário do que nunca. A dor não parecia que ia passar tão cedo. Só piorava a medida que eu olhava pros seus olhos negros e seus cabelos loiros. Eu não conseguia me livrar dela."