segunda-feira, fevereiro 29, 2016

Não há explicação pra se amar tanto alguém
Não há explicação pra se ter certeza daquilo que não se tem
Não há explicação pra uma vida cheia de suspiros e vontades
Não há explicação pra querer e sonhar com aquilo que não se deve ou não se pode
Não há explicação pra ter amor de verdade 
Não há explicação pra querer tanto e saber de tudo, mesmo não se sabendo de nada.

quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Vive um ser dentro de mim, com uma raiva reprimida
Alguém com impulso magnético que me prende dentro da pele
Me estica e me dá pontapés querendo sair
A irracionalidade de um ser que vive sempre fechado
Um bicho no canto de uma sala escura que a todo momento é estimulado a atacar

Vive um ser dentro de mim que grita todos os dias
Ensurdecendo a minha alma
Trazendo à tona uma frustração constante
Uma repulsa que impregna meus poros
Me suja e me enoja

Vive um ser dentro de mim, que me corta em mil pedaços
Me faz sentir uma dor que não cessa
Um mal que nunca acaba
Uma inquietação sem sentido
Um amor reprimido e enjaulado que não sabe como sair

sexta-feira, fevereiro 19, 2016

Pushes me away

A vejo de cabelo vermelho, tatuagem no pescoço, símbolo significativo na perna e olhos serenos, olhando um horizonte que ela não pode contemplar, pela sua condição de viver à furtiva, na densa e fascinante noite.

E de lá, ela olha pra mim e diz: cacete, te tornaste uma maricas. Parecia um maldito bicho acuado na esquina. Não foi isso que te ensinei!
E eu, de cabeça baixa, não consiguia responder.

Ela, com os olhos fixos no horizonte, esbraveja: Onde me jogaste esses anos todos? Queria me ver queimar ao sol ao qual não posso mais sentir? Era essa a estima que dizias ter por mim?
E o meu argumento era que me acovardei, pensando que vivia numa verdade.

Ela ria, maldosamente da minha ingenuidade: Eu disse a você, crê no seu instinto, no seu sentimento, no seu sentido e não na palavra de um idiota qualquer.
Minhas palavras saiam cortadas de minha garganta, como se a voz tivesse sufocad, e eu contava que vivia um conflito, do que no fundo sabia e do que gostaria que fosse, de fingir acreditar.

Ela com o maior escárnio que toda Terra já poderia ter visto me disse: Claro! O mundo feito de algodão! O mundo que não tem mentiras, traições, mortes, crueldade. O mundo mágico na bolha estúpida que você sempre quis viver!

E me indagou: E porque procurou a mim, se nunca iria receber e aceitar os conselhos que te daria?!? Mas não adianta dizer, quem avisa amigo é, porque eu nunca fui amiga de ninguém. Já vivi séculos e sei coisas que sua imaginação não pode alcançar.
E por um instante, uma lágrima rolou de meus olhos.

Ela parou de contemplar o horizonte e com aqueles olhos enegrecidos, furiosos, olhou fixamente em meus olhos: PÁRA DE SER RIDÍCULA! EU TE AVISEI, NÃO ADIANTA DEIXAR NENHUMA MALDITA LÁGRIMA DESSA CAIR!
Voltando seus olhos para o horizonte, seu tom de voz voltou a mesma indiferença: vai perder seu tempo, porque não tenho pena. Não tenho dor. Não tenho medo, de nada.
Fechei meus olhos e lembrei de todos os anos que cultivei ao seu lado, aprendendo a ser forte, a encarar minhas faltas de frente.

Por um momento, emudeceu e fechou os olhos. Seus cabelos vermelhos reluziam um brilho lindo que o começo da noite refletia: Esse é o único momento que posso ver o sol, no cair da tarde. Esse é o único momento que posso dizer que recordo o que é sentir e pelo sol, perderia minha eternidade. Ele é a única coisa verdadeira que existe. Ele e o sentimento que carregas dentro de ti. Ele e o seu instinto. Eu sei o que pensas. Eu vejo todos os seus pensamentos.

Enquanto ela piscava lentamente, seu semblate se tornou sereno e um vento quente batia em seus braços desnudos: Eu não sinto nada. Nem frio, nem calor, nem fome. E por mais que eu pensasse que um dia enlouqueceria na solidão, em ouvir sem mesmo querer o pensamento das pessoas, descobri que, a única coisa que não sei é o que vai acontecer no futuro. Tenho a eternidade pra não planejar nada.

Você um dia partirá daqui e eu continuarei. Aprenda uma coisa, eu te verei novamente, como já te vi outras vezes. Porque sou parte de você. Sou você, mas você não aceita, como nunca aceitou. Sou cruel, fria, realista. Não tem mundo de algodão, bolha, nada. Eu sou sua essência, sua parte forte.

Ensino-te todas as vezes que deve confiar em você, nos seus sentimentos primitivos, na sua segurança, na sua atitude. Que não deve se perguntar, não deve pensar muito, deve se executar. Mas você tem essa mania estúpida de acreditar na palavra de qualquer idiota que encontras.

Eu sou a parte de você que sabe o que é amar, o que é sentir. Eu sou a parte de você que sabe o que é sofrer, o que é morrer. Eu sou a parte de você que te mantém viva. Mas você me olha, desacreditando que eu sou parte de você, porque você vê meu rosto pálido, a minha pela branca, os meus olhos negros.


E quando eu menos esperava, ela me estendeu sua mão, fria e branca como cera: Eu sou a coragem. E o dia em que você aprender que somos uma só, eu derramo a minha última lágrima, diferente dessa lágrima branca e salgada de uma pureza imbecil. A minha é a lágrima amarga, que desce pelo rosto marcando tudo o que foi a minha vida. O dia em que você aprender, que deve acreditar em você, o dia que se olhar no espelho e ver que seu rosto é igual ao meu, eu corro para o sol, para me livrar da eternidade e viver cada dia aí dentro, como se fosse único.


Fechei meus olhos e vi, por um relance, tudo o que ela tinha dito. Tudo o que já tinha vivido. Todas as vezes que nos encontramos ao longo de todas as minhas vidas. Quando os abri, o sol brilhava magestoso em uma imensidão azul, nunca mais vista.

Time will pass

Já era tarde, e mesmo cansado, olhava insistentemente para suas mãos. Não conseguia lembrar o que tinha feito naquele dia. Tudo era um grande flash em branco de suas maiores atitudes.

Onde será que tinha estado? E porque se sentia tão cansado se ao menos sabia que a poucos minutos poderia fechar seus olhos e dormir.

Era esse um dos grandes problemas. Por mais que dormisse, não conseguia descansar sua cabeça e a cada minuto que passava, pensava que queria dormir por um tempo indeterminado, para não ter que encarar os fatos de sua vida.

O que doía tanto?O que o corroía por dentro e não sabia mais? Porque dava tanta importância para as coisas que os seres humanos não poderiam nunca entender?

Não precisava estar daquele jeito mas via seus dias se passarem em uma grande foto preto e branco. Estática e linda, de tão melancólica e vazia.

Não acreditava em sua voz interior. Não acreditava que tudo iria voltar a ficar bem. Não acreditava que poderia fazer tudo ter brilho novamente.

A cabeça explodia em uma sensação de não sentir nada e queria voltar a ser como antes e não conseguia. Queria voltar a viver como antes e não conseguia. Queria voltar a sentir como antes, mas não conseguia.

Que palavra tinha sido tão perturbadora? Porque pensava que poderia mudar o mundo, se ao menos não podia fazer todas as suas coisas decentemente?

Se importava tanto com um gesto de carinho, se importava tanto com a verdade, se importava tanto que se importassem com ele e não sabia aprender a se importar consigo mesmo.

Mesmo as lágrimas caindo de seus olhos e seus movimentos serem milimetricamente contados, ainda esperava ouvir o que esperou o dia todo.

Era tristeza, era o olhar para trás de todas as dores que tinha sentido e dizer que já não suportava mais. Era o desprezo que tinha pela sua pessoa em ter se tornado alguém tão fraco e vulnerável.

Sabia que por mais que fingisse que não, preferia que o mundo levasse embora a sua alma, para não ter mais que sentir solidão.

Dentro, era dor. Dor que não podia descrever. Dor que fazia se sentir pequeno e desprezível. Dor de ter deixado o mundo o engolir e devolver só os pedaços que já não serviam mais.

Por mais que sorrisse, queria abrir os braços e se jogar de um lugar bem alto, em um dia lindo de sol. Queria saber novamente o que era o ar gelado entrar em seus pulmões.

Queria saber se pedia perdão, se quebrava tudo, se sumia por dias e voltaria como se nada tivesse acontecido.

Estava cansado de esperar o telefone tocar. Estava cansado de esperar a vida lhe agradecer. Estava cansado de ouvir o eco de sua própria voz em suas quatro paredes, agonizando por respostas. Respostas que nunca viriam.


Era solidão de si que sentia e isso talvez nunca mais tivesse cura.

terça-feira, fevereiro 16, 2016

"Toda vez que ouvia seu nome, lembrava da  garota que vi pela primeira vez pelo vidro do estúdio. Lembrava de seus cafés pela tarde, seu cheiro doce e de seus sorrisos. Lembrava de nossas madrugadas e de suas pequenas mãos tocando meu rosto, em Los Angeles.
Outro disco tinha saído e ela não estava mais lá. Outra turnê começou e terminou e não a vi mais deitar em meu peito em um terraço qualquer, numa noite fresca. Não tinha a esquecido, por mais que eu brigasse comigo mesmo e com o destino, ela sempre estava guardada dentro de mim.
Em uma tarde em Seattle, recebi uma triste noticia que um amigo próximo, conhecido de outra banda, tinha falecido. Seu funeral seria no final de semana. Tinha lutado bravamente com um câncer que lhe consumiu nos últimos seis meses.
Sinceramente, não gostava muito de funerais. Mas acabei indo por conta das circunstâncias. Não sabia lidar com a perda, eu tinha certeza disso dentro de mim, mas essa era a única maneira que eu tinha de lhe prestar o meu respeito. Ninguém merecia ficar só numa situação dessa.
Sentado na igreja, vendo a movimentação e ouvindo Jeniffer conversar com Pete, vi Matthew chegar. Logo atrás dele chegou Alice. Ela estava muito diferente do que a tinha visto da última vez.
Alice usava calças mais justas e botas por cima delas. Uma jaqueta de couro lhe cobria uma blusa branca também justa ao seu corpo. Seus cabelos ainda compridos e loiros batiam quase em sua cintura, olhei seu rosto e ela parecia mais mulher. Sempre muito meiga, sempre muito bonita.
Matthew nos cumprimentou de longe e sentou no banco a minha frente, fazendo com que Alice se sentasse ao seu lado, quase em frente a mim. Ela ainda virou e disse um oi de longe pra nós. Os dois pareciam muito tristes. Jeniffer me perguntou quem eram e disse a ela que eram um casal de amigos.
Passei quase a cerimônia inteira olhando pros seus cabelos caídos pelas costas e pro braço de Matthew que lhe envolvia, a puxando pra perto, preso as costas dela.

Me sentia desconfortável. Se ainda sentia algo por ela? Provavelmente. Aquilo me incomodava, mais do que estar em um funeral. Aquele sentimento ainda vivia em mim, mesmo que eu quisesse esquecer que ele existia."

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Arc

Você me disse que estávamos próximos de sair da tempestade. Que o mar iria ficar calmo e que encontráriamos um lugar pra finalmente ficarmos.

Perto da praia, você desmaiou e carreguei você até aqui. Fui procurar algo pra nos abrigar e olhar pra ver se não éramos indesejados ali.

Tudo tão vazio e quieto que o silêncio chegava a incomodar. Só sua respiração era regular, e mesmo assim, eu ainda tinha medo de que você me deixasse sozinha.

Procurei comida, nos abriguei da chuva, velei seu sono e fiquei relembrando de nossas vontades.


Não importa, ainda gosto da incerteza. Ainda acredito que abrirá esses olhos e que lembrará de nossas vidas.

Breaker


Hoje, nem que eu jogasse todas as fotos fora, nem que o desespero se abatesse pela falta de coragem, nem que minha vida resolvesse cuspir na minha cara tudo o que já fiz de mais odioso, conseguiria esquecer que seus olhos me perseguem e me acariciam, sem que eu peça, sem que eu consiga entender.