terça-feira, fevereiro 16, 2016

"Toda vez que ouvia seu nome, lembrava da  garota que vi pela primeira vez pelo vidro do estúdio. Lembrava de seus cafés pela tarde, seu cheiro doce e de seus sorrisos. Lembrava de nossas madrugadas e de suas pequenas mãos tocando meu rosto, em Los Angeles.
Outro disco tinha saído e ela não estava mais lá. Outra turnê começou e terminou e não a vi mais deitar em meu peito em um terraço qualquer, numa noite fresca. Não tinha a esquecido, por mais que eu brigasse comigo mesmo e com o destino, ela sempre estava guardada dentro de mim.
Em uma tarde em Seattle, recebi uma triste noticia que um amigo próximo, conhecido de outra banda, tinha falecido. Seu funeral seria no final de semana. Tinha lutado bravamente com um câncer que lhe consumiu nos últimos seis meses.
Sinceramente, não gostava muito de funerais. Mas acabei indo por conta das circunstâncias. Não sabia lidar com a perda, eu tinha certeza disso dentro de mim, mas essa era a única maneira que eu tinha de lhe prestar o meu respeito. Ninguém merecia ficar só numa situação dessa.
Sentado na igreja, vendo a movimentação e ouvindo Jeniffer conversar com Pete, vi Matthew chegar. Logo atrás dele chegou Alice. Ela estava muito diferente do que a tinha visto da última vez.
Alice usava calças mais justas e botas por cima delas. Uma jaqueta de couro lhe cobria uma blusa branca também justa ao seu corpo. Seus cabelos ainda compridos e loiros batiam quase em sua cintura, olhei seu rosto e ela parecia mais mulher. Sempre muito meiga, sempre muito bonita.
Matthew nos cumprimentou de longe e sentou no banco a minha frente, fazendo com que Alice se sentasse ao seu lado, quase em frente a mim. Ela ainda virou e disse um oi de longe pra nós. Os dois pareciam muito tristes. Jeniffer me perguntou quem eram e disse a ela que eram um casal de amigos.
Passei quase a cerimônia inteira olhando pros seus cabelos caídos pelas costas e pro braço de Matthew que lhe envolvia, a puxando pra perto, preso as costas dela.

Me sentia desconfortável. Se ainda sentia algo por ela? Provavelmente. Aquilo me incomodava, mais do que estar em um funeral. Aquele sentimento ainda vivia em mim, mesmo que eu quisesse esquecer que ele existia."

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