sexta-feira, fevereiro 19, 2016

Time will pass

Já era tarde, e mesmo cansado, olhava insistentemente para suas mãos. Não conseguia lembrar o que tinha feito naquele dia. Tudo era um grande flash em branco de suas maiores atitudes.

Onde será que tinha estado? E porque se sentia tão cansado se ao menos sabia que a poucos minutos poderia fechar seus olhos e dormir.

Era esse um dos grandes problemas. Por mais que dormisse, não conseguia descansar sua cabeça e a cada minuto que passava, pensava que queria dormir por um tempo indeterminado, para não ter que encarar os fatos de sua vida.

O que doía tanto?O que o corroía por dentro e não sabia mais? Porque dava tanta importância para as coisas que os seres humanos não poderiam nunca entender?

Não precisava estar daquele jeito mas via seus dias se passarem em uma grande foto preto e branco. Estática e linda, de tão melancólica e vazia.

Não acreditava em sua voz interior. Não acreditava que tudo iria voltar a ficar bem. Não acreditava que poderia fazer tudo ter brilho novamente.

A cabeça explodia em uma sensação de não sentir nada e queria voltar a ser como antes e não conseguia. Queria voltar a viver como antes e não conseguia. Queria voltar a sentir como antes, mas não conseguia.

Que palavra tinha sido tão perturbadora? Porque pensava que poderia mudar o mundo, se ao menos não podia fazer todas as suas coisas decentemente?

Se importava tanto com um gesto de carinho, se importava tanto com a verdade, se importava tanto que se importassem com ele e não sabia aprender a se importar consigo mesmo.

Mesmo as lágrimas caindo de seus olhos e seus movimentos serem milimetricamente contados, ainda esperava ouvir o que esperou o dia todo.

Era tristeza, era o olhar para trás de todas as dores que tinha sentido e dizer que já não suportava mais. Era o desprezo que tinha pela sua pessoa em ter se tornado alguém tão fraco e vulnerável.

Sabia que por mais que fingisse que não, preferia que o mundo levasse embora a sua alma, para não ter mais que sentir solidão.

Dentro, era dor. Dor que não podia descrever. Dor que fazia se sentir pequeno e desprezível. Dor de ter deixado o mundo o engolir e devolver só os pedaços que já não serviam mais.

Por mais que sorrisse, queria abrir os braços e se jogar de um lugar bem alto, em um dia lindo de sol. Queria saber novamente o que era o ar gelado entrar em seus pulmões.

Queria saber se pedia perdão, se quebrava tudo, se sumia por dias e voltaria como se nada tivesse acontecido.

Estava cansado de esperar o telefone tocar. Estava cansado de esperar a vida lhe agradecer. Estava cansado de ouvir o eco de sua própria voz em suas quatro paredes, agonizando por respostas. Respostas que nunca viriam.


Era solidão de si que sentia e isso talvez nunca mais tivesse cura.

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