segunda-feira, fevereiro 26, 2018

Never want to put my feet back down on the ground

Não quero mais voltar. O mundo não me pertence, e nem eu pertenço às suas surpresas. Não me acostumei ainda a entender que sei e esqueço que no fim, tudo sempre repete, num ciclo incansável.


segunda-feira, fevereiro 19, 2018

Lullaby

Afinidade a gente não compra, não pede, não faz. Afinidade existe, não precisa de esforço. Afinidade aparece às três da manhã quando você tá rolando na cama, querendo dormir.

Aparece quando você escuta a letra de uma música, quando te dizem uma frase mágica.

Não tem como criar afinidade, não dá pra querer que ela aconteça. Não dá pra ter medo e não dá pra fugir.

quarta-feira, fevereiro 14, 2018

"Outros discos saíram, outras turnês foram feitas. Outros estagiários entraram no estúdio e mesmo depois de 11 anos, ainda olhava pelo vidro e me lembrava de Alice.
Eu podia notar que alguns cabelos brancos me saiam e que tinha envelhecido, por conta dos meus mais de 40 anos. Às vezes me pegava pensando que tive tanto medo de me tornar um homem casado e com filhos e no fim, era isso que tinha acontecido.
Alice e eu nos falávamos umas duas vezes por ano. O trivial. Depois que ela perdeu os bebês, me ligava pra manter contato e eu fazia o mesmo. Não a tinha visto mais desde aquela época e depois de Matthew, teve outro relacionamento que não deu certo. Mas seguia,  sem grandes percalços. Talvez tivesse aprendido com a vida.
Se eu ainda gostava dela? Sim. A falta de proximidade e minha idade não me davam mais os mesmos calafrios, mas todas as memórias que eu tinha dela ainda eram muito vívidas em minha cabeça.
Por um incidente do destino, uma fatalidade, ela me ligou e nos encontramos de novo em um funeral. Dessa vez quem tinha falecido era Lex. Tinha 29 anos, um ano só a mais que Alice.
Kevin e Pete me acompanharam a cerimônia e ao enterro. Alice era mais velha, seus cabelos estavam curtos, com uma franja comprida lhe caindo de lado aos olhos, menos loira do que antes. Já não usava mais calças jeans e tênis. Tinha se tornado uma mulher bem elegante.
Alice chorava muito, tanto na cerimônia, quanto no enterro, talvez mais que a própria esposa de Lex. Ainda me lembrava das coisas que me contara quando tinha mudado pra cá. Sei que o amigo ia lhe fazer uma falta tremenda.
Eu a contemplava de longe, vendo seu casaco preto lhe acentuado a cintura, as botas pretas por cima das calcas justas, ela com as mãos no bolso, Cacá lhe abraçando. As pessoas indo lhe dar os pêsames.
‘Vai falar com ela’ – disse Kevin olhando pra mim
‘Não sei se devo...’ – ainda me sentia constrangido com sua presença
‘Louis, o que você sentiria se fosse você que estivesse no lugar dela e ela não fosse te dizer nem oi?’
Kevin era sempre duro comigo, era a única pessoa que sabia de meus pensamentos em confissão calada e sei lá porque motivo, ele me compreendia.
Segui então até ela e antes de me aproximar, cumprimentei seus amigos e a esposa de Lex, dando os meus sentimentos. Quando cheguei próximo a ela e a vi devastada, quis chorar.
‘Que bom que veio’ – ela me disse, me dando um abraço
‘Meus sentimentos’
‘Obrigada Louis. Meu irmão, eu não consigo acreditar...’
‘O que aconteceu com ele?’
‘Lex ficou doente depois de visitar seus pais. Uma semana depois que chegou internou e na outra não suportou mais. Pegou uma infecção generalizada, parou de andar, mexer os braços e falar...’ – ela mal conseguia falar
‘Eu sinto muito, Alice. Sei o quanto ele era importante pra você’
‘Pois é. Parece que estou fadada a perder tudo o que é importante pra mim’ – ela me olhou com lágrimas nos olhos, mais negros, mais tristes
‘Não fale assim’ – e passei a mão em seus cabelos, lhe colocando a franja que caía em seus olhos, por trás da orelha
‘É verdade. Perdi tudo. Ou quase tudo. Até você, que nunca quis perder, eu perdi’ – aquela frase me cortou por dentro
‘Não me perdeu. Eu estou aqui’
‘Mas não convive mais comigo. Já perdi as contas de quantos anos não te vejo’
‘Ainda nos falamos...’
‘Sim, em aniversários e só’ – ela mal olhava pros meus olhos 
‘Nossas vidas...’ – eu sentia vergonha, porque ela tinha razão e eu também a tinha perdido de uma certa maneira, mais do que ela a mim
‘Sim, eu sei Louis. Você casou, tem filhos. Eu...bom...enfim...’
‘Ei, não fale assim. Sei que está revoltada por conta de tudo que aconteceu com Lex’
‘Ele não merecia. Lex não tinha boca pra nada. Não conheci ninguém como ele, era praticamente um anjo...’
‘Boas pessoas não sofrem nesse mundo, Alice’
‘Então devo ser muito mal, porque cada hora é um tombo diferente’
‘Não fale assim’ – e subi seu queixo, fazendo com que seus olhos cheios de lágrimas se encontrassem com os meus
‘Queria voltar pra aquele estúdio, a primeira vez que te vi, lembra?’ – sua frase fez com que os meus olhos se enchessem de lágrimas e a dor na garganta que sentia toda vez que eu sentia sua falta aparecesse
‘Lembro’ – minha voz mal saia
‘Me disse que era chato, lembra? Mal você sabia o quanto eu era chata’ – e ela sorriu pra mim, o mesmo sorriso de anos atrás
‘Não, como eu não’ – e sorri pra ela
Ela então se encostou em mim, se encolhendo em meus braços e chorou baixinho por uns cinco minutos. Ainda tinha o mesmo perfume, ainda podia lembrar de suas calças jeans e camisetas e o quanto ainda lhe tinha amor.
‘Será que um dia vou ser feliz?’ – ela me perguntou
‘Vai, eu sei que vai’ – ela ainda era a minha menina, enquanto passava minha mão pelos seus cabelos e a prendia perto de mim, lhe beijando a testa
‘Eu era feliz quando te conheci. Era feliz quando ficamos amigos. Era feliz quando fui embora de Los Angeles aquele dia que me levou no aeroporto’ – e me abraçou mais forte, como se quisesse se esconder dentro de mim
‘Eu também era’ – e nunca mais tinha sido feliz daquela maneira, eu sabia disso
‘Louis?’ – a voz de Kevin veio por trás de mim, me fazendo soltar de Alice e virar pra ele, Pete lhe acompanhava – ‘já se foram todos. Seus amigos estão te esperando pra ir embora, Alice’ – e ele foi de encontro a ela, lhe dando um beijo e um abraço – ‘eu sinto muito por Lex’
‘Alice, eu sinto muito’ – disse Pete também lhe abraçando bem de perto
‘Obrigada, obrigada por terem vindo’ – ela disse, se soltando de Pete e já se encaminhando a nossa frente, indo em direção ao carro onde seus amigos lhe esperavam
Alice ainda olhou pra trás e me sorriu, me dando um tchau de longe. A mesma, sempre seria a mesma pra mim, não importava o que fizesse nos cabelos ou quais roupas usasse, era a minha menina.
‘Vamos?’ – me disse Kevin
‘Sim, vamos...’
‘Quer que eu dirija?’
‘Sim...pode ser...’
‘Ela está diferente, né? Nem parece que está com quase 30 anos...’
‘Sim. É a garota mais bonita que já conheci’ – meus olhos embaçaram
‘Ainda, meu amigo?’ – e Kevin colocou seu braço por trás das minhas costas, abrindo o carro pra eu entrar
‘Sempre’ – as lágrimas vieram aos olhos, sem eu perceber
E sentei, olhando pelo vidro enquanto ele dirigia."
And, I built a home
For you
For me
Until it disappeared
From me
From you
And now, it's time to leave and turn to dust”

The Cinematic Orchestra - To Built a Home


terça-feira, fevereiro 13, 2018

Do you climb into space?

Quem lê essas linhas mal escritas acha que mundo gira em torno do meu umbigo e que o único atributo que tenho é o egoísmo. Eu fico procurando uma brecha pra me expor, mas na verdade não consigo.

Na verdade, eu tenho só que estar disponível. Disponível a ouvir o próximo, a dar conselhos, a cumprir ordens, a sorrir e nunca dizer não.

A insanidade me corteja, porque somente nela eu consigo ser eu mesma. Sem obrigações, sem abnegações.


sábado, fevereiro 10, 2018

quem nunca quis um amor de carnaval pra chamar de seu?

terça-feira, fevereiro 06, 2018

"Desconfie daquelas pessoas que te dizem eu te amo muito facilmente. Aquelas que querem firmar um compromisso muito rapidamente. Aquelas que juram estar sempre dizendo a verdade, mesmo você vendo que elas estão mentindo pra você.

Hoje eu entendo que dizer eu te amo, é algo muito sério. Que a gente não diz assim como se fosse lá na gaveta, trocar de blusa. Amar é um processo longo, que dispende energia, e principalmente, sentimento.

Não dá pra quantificar sentimento. O que é amar muito? O que é amar pouco? O que é em números essa expressão muito ou pouco?

O que adianta alguém estar com você e não ser comprometido a você? Não participar do seu mundo, não se integrar aquilo que você gosta ou aquilo que você acredita? Não apoiar as suas decisões ou simplesmente secar as suas lágrimas em um dia que você chora sem motivos?

Brincar com os sentimentos dos outros assim é perigoso. E a lei do retorno é descrita pela física e sempre certa."

sexta-feira, fevereiro 02, 2018

The One

Foi em junho de 1998 quando eu vi os olhos daquele garoto pela primeira vez. Eles eram negros feito jaboticaba e me invadiram assim que ele atravessou a sala do cursinho. Tudo pareceu sumir. O bonitinho que sentava duas fileiras a frente, o avental amarelo do professor que segurava o microfone sujo de giz, o cabelo laranja da menina que sentava na frente, o cabelo magnifico do oriental que vinha de moto e todas as palavras que eu tinha escrito na folha solta do fichário.

Por seis meses eu vi aquele garoto passar tímido por entre as cadeiras e sentar perto da parede onde poderia ficar escondido com os seus fones de ouvido e sua blusa de capuz cobrindo os cabelos. Raramente sorria quando alguém falava algo e por conta do aparelho seus dentes pareciam maiores do que o normal.

Quantos dias eu não desejei saber por curiosidade qual música tocava insistente nos ouvidos daquele garoto. Qual faculdade iria fazer. Se trabalhava ou somente estudava e em qual extremo da cidade vivia já que eu nunca o encontrava quando pegava o metro pra voltar pra casa.

Hoje, quase 20 anos depois passei em frente ao mesmo cursinho. Quando fechei meus olhos, lembrei imediatamente daquele garoto. E só agora percebi que nunca soube seu nome. Somente um estranho perdido no espaço e tempo.