sexta-feira, fevereiro 02, 2018

The One

Foi em junho de 1998 quando eu vi os olhos daquele garoto pela primeira vez. Eles eram negros feito jaboticaba e me invadiram assim que ele atravessou a sala do cursinho. Tudo pareceu sumir. O bonitinho que sentava duas fileiras a frente, o avental amarelo do professor que segurava o microfone sujo de giz, o cabelo laranja da menina que sentava na frente, o cabelo magnifico do oriental que vinha de moto e todas as palavras que eu tinha escrito na folha solta do fichário.

Por seis meses eu vi aquele garoto passar tímido por entre as cadeiras e sentar perto da parede onde poderia ficar escondido com os seus fones de ouvido e sua blusa de capuz cobrindo os cabelos. Raramente sorria quando alguém falava algo e por conta do aparelho seus dentes pareciam maiores do que o normal.

Quantos dias eu não desejei saber por curiosidade qual música tocava insistente nos ouvidos daquele garoto. Qual faculdade iria fazer. Se trabalhava ou somente estudava e em qual extremo da cidade vivia já que eu nunca o encontrava quando pegava o metro pra voltar pra casa.

Hoje, quase 20 anos depois passei em frente ao mesmo cursinho. Quando fechei meus olhos, lembrei imediatamente daquele garoto. E só agora percebi que nunca soube seu nome. Somente um estranho perdido no espaço e tempo.

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