quinta-feira, junho 30, 2016

Ride

"Tens pressa, tens pressa. Assim como o coelho que disse a Alice que estava atrasado, sempre muito atrasado, também estás.

Fica gritando, no caso de ainda não ter escutado a mesma ladainha por dias a finco e depois finge-se exausto porque também não agüenta mais falar com surdos.

É a sua consciência, meu amor? É a sua consciência gritando de novo? Ela já não te deixa mais em paz como antes? Do que você tem saudades? Do tempo em que tinha planos? Tinha todos os planos e poderia colocar em prática quando fosse livre!

Ves agora? Não és livre e nunca será. Não adianta chorar agora, essas lágrimas não irão trazer de volta os anos que se passaram por entre os dedos em que você ficou sentado fazendo planos.

Não adianta mais ter medo! Você escolheu viver, dentre todos os caminhos e esse não tem mais volta. Viver corre, mais do que tudo.

Quer? Quer cumprir o que acha de direito? Como? Tem alguma idéia? Todo mundo quer conhecer o caminho mais rápido pra chegar no pote encantado.

E você acha que se desesperar ia ser interessante? Ué, quem fez mil planos foi você, me diz agora por qual deles você vai começar?

Não sabe? Você nunca sabe! Você nunca está pronto pra colocar a cara pra fora. Nunca está pronto pra ver a vida como deveria. Sempre terá um momento melhor, uma pessoa mais interessante, um sonho melhor!

Até quando? Até quando irá se privar do primitivo, jogar fora princípios estúpidos, espelhar-se na sua própria rebeldia e ficar aí, parado, com essa cara?

Não posso te provar mais nada se não descobrir tudo sozinho, outra vez."


sábado, junho 25, 2016

"Toda vez que ouvia seu nome, lembrava da garota que vi pela primeira vez pelo vidro do estúdio. Lembrava de seus cafés pela tarde, seu cheiro doce e de seus sorrisos. Lembrava de nossas madrugadas e de suas pequenas mãos tocando meu rosto, em Los Angeles.
Outro disco tinha saído e ela não estava mais lá. Outra turnê começou e terminou e não a vi mais deitar em meu peito em um terraço qualquer, numa noite fresca. Não tinha a esquecido, por mais que eu brigasse comigo mesmo e com o destino, ela sempre estava guardada dentro de mim.
Em uma tarde em Seattle, recebi uma triste noticia que um amigo próximo, conhecido de outra banda, tinha falecido. Seu funeral seria no final de semana. Tinha lutado bravamente com um câncer que lhe consumiu nos últimos seis meses.
Sinceramente, não gostava muito de funerais. Mas acabei indo por conta das circunstâncias. Não sabia lidar com a perda, eu tinha certeza disso dentro de mim, mas essa era a única maneira que eu tinha de lhe prestar o meu respeito. Ninguém merecia ficar só numa situação dessa.
Sentado na igreja, vendo a movimentação e ouvindo Jeniffer conversar com Pete, vi Matthew chegar. Logo atrás dele chegou Alice. Ela estava muito diferente do que a tinha visto da última vez.
Alice usava calças mais justas e botas por cima delas. Uma jaqueta de couro lhe cobria uma blusa branca também justa ao seu corpo. Seus cabelos ainda compridos e loiros batiam quase em sua cintura, olhei seu rosto e ela parecia mais mulher. Sempre muito meiga, sempre muito bonita.
Matthew nos cumprimentou de longe e sentou no banco a minha frente, fazendo com que Alice se sentasse ao seu lado, quase em frente a mim. Ela ainda virou e disse um oi de longe pra nós. Os dois pareciam muito tristes. Jeniffer me perguntou quem eram e disse a ela que eram um casal de amigos.
Passei quase a cerimônia inteira olhando pros seus cabelos caídos pelas costas e pro braço de Matthew que lhe envolvia, a puxando pra perto, preso as costas dela.
Me sentia desconfortável. Se ainda sentia algo por ela? Provavelmente. Aquilo me incomodava, mais do que estar em um funeral. Aquele sentimento ainda vivia em mim, mesmo que eu quisesse esquecer que ele existia."

sábado, junho 18, 2016

The higher truth

Gosto de ver seus olhos, nem que seja por alguns minutos. Daquele jeito, através da parede, compenetrado, olhando para o nada, pensando nas dores do mundo, com as mãos imóveis.

Pela janela transparente, posso enxergar as gotas de chuva que caem e naturalmente você desvia o olhar e me pergunta se há todas aquelas frases e lágrimas para expressarmos todas as nossas culpas e ressentimentos. Não sei te responder, não sei dizer nada, só consigo estender as mãos e segurar forte em seus dedos finos e compridos.

Sinto sua essência se desfazer aos olhos de outros, mas por dentro encontro a mesma ternura que vi um dia. 'Se tudo fosse como as pessoas querem, o mundo estaria mais caótico do que já é', você me diz. E olha mais uma vez compenetrado pela janela, segurando muito forte em minhas mãos.

Tento te ouvir, mas a única coisa que consigo perceber são as nuances de sua expressão e sua respiração mais calma e mais ofegante, conforme sua própria vontade. Não quer me dizer nada e no silêncio ainda se afunda em velhas convicções. 'Me empresta um pouco de sua vontade de ser feliz?', você me pede e eu não consigo te dizer nada, tentado demonstrar com os olhos palavras que não podem ser ditas.

Você se move inquieto da cadeira onde está sentado, perdendo o fio dos pensamentos, com ar de desespero. 'Existe mesmo algo além de tudo isso que conseguimos construir?', você me pergunta e só consigo olhar, pedindo pela mesma resposta e você olha de novo a sua frente, sem que mude a expressão de seus olhos.

Sinto que parece estar decepcionado com a minha falta de respostas e da janela, onde olhava calmo as gotas de chuva caírem, passa a olhar para o meu rosto, percebendo que apesar de meus poucos anos, envelheci sem ao menos ter percebido. 'Por que deixas essa lágrima cair do canto de teus olhos?', você me pergunta. Tento dizer algo, mas nada que eu consiga dizer vai sanar o meu desespero por não conseguir me expressar.

'Não quero tuas respostas, sei todas elas, posso ler seus pensamentos através de seus olhos, lembra-se?'. Me sorri aquele sorriso inocente e bobo e seca minhas lágrimas calmamente. 'Você nos fez complexos e no fundo somos simples e puros', você me diz, tentando tirar de minhas mãos a responsabilidade pelos fracassos.

'Quando te vi pela primeira vez, pensei o quanto poderia aprender e te ensinar, mas acho que preciso te deixar livre', você me diz. "NÃO, NÃO VÁ!", eu peço desesperadamente e aperto muito suas mãos, puxando seus braços em minha direção e tento mergulhar dentro de sua alma.

'Vai ficar tudo bem, eu prometo. Vai ficar tudo bem.', você me diz e eu te dou todas as respostas perdidas, dentro de palavras que só nós compreendemos.

sexta-feira, junho 10, 2016

"Matthew segurou em minhas mãos e me beijou os dedos. Me fazendo sentir mole e tremer de medo, de desejo, de paixão enlouquecida. Ele me olhou então com seus dois olhos turquesas e me encaminhou pra dentro de seu carro.

‘Pra onde podemos ir?’ – ele me disse enquanto passava a mão em meu rosto
‘Podemos ir pra minha casa’
Quando Matthew entrou em minha casa, estendeu sua mão e me puxou pra perto dele, me fazendo carinho nos cabelos. Quando ele me olhou nos olhos de novo, o meu corpo todo estremeceu.
‘Quer subir?’ – lhe disse sem pensar
‘Sim’
Matthew sentou então na minha cama, me puxando a cintura pra perto de seu corpo, me beijando e já me tirando a roupa. Eu não tinha escolha, meu coração era dele. Eu o queria e o quis por muitos meses, não deixaria aquela oportunidade me escapar. Quando acordei e olhei pro lado, não o vi, me bateu o mesmo desespero.
‘Matthew?!?’ – chamei pelo seu nome, quase num choro, num grito
‘Sim?’ – ele me respondeu, estava sentado no chão em frente a cama
‘Achei que tinha ido, não te vi sentado aí’ – e fui até o pé da cama, lhe abraçando e beijando seu pescoço, ainda com seu perfume
‘Estava olhando a cidade. Como é bonita’
‘Sim. É. Foi a melhor vista que eu podia ter’ – ainda falei enroscada no seu pescoço, um sorriso me invadia, me sentia feliz
‘Eu vou ter que ir embora...’
‘Não, fique mais um pouco, não quer alguma coisa?’
‘Quero. Você’
Matthew ainda me teve em seus braços mais uma vez e logo em seguida, se levantou, se trocando e indo embora.
‘Eu, te vejo em breve...’ – aquela frase me causava dor
‘Matthew, eu...dá última vez...’ – as lagrimas queriam cair
‘Não. Dessa vez é diferente. Eu te vejo em breve, a turnê tá acabando, mais uns meses e estou de volta pra casa. Ainda te quero, pequena, você me alucina...’ – e ele voltou a me abraçar, me beijando com mais desejo
‘Tem certeza de que não quer ficar?’
‘Hoje não posso, amanhã viajo cedo. Mas quando voltar, eu fico, aqui, nessa cama com você, semanas se for necessário’ – e sorriu pra mim, me fazendo sentir boba
‘Ok’ – lhe disse, o rosto em brasa, completamente entregue, mais apaixonada ainda
‘Se cuida, ok?’
‘Sim. Você também, se cuida e boa viagem amanhã’ – Matthew me beijou novamente, desceu as escadas e antes de sair pela porta ainda me disse
‘Eu volto’
Voltei a me enroscar nos lençóis, louca, cheia de desejos e de esperanças. E mesmo que ele não voltasse, dessa vez eu ia atrás dele. Nem que fosse no inferno."

quinta-feira, junho 02, 2016

Hey Mr. Tamborine Man, play a song for me

Queria poder dizer que consigo conviver com as distâncias, com as diferenças, com o mundo que não me pertence, com a vida que sonhei pra sempre.

Queria poder dizer que te quero feliz e te quero bem.
E quero.

Só sinto sua falta. Não me leve a mal.