sexta-feira, janeiro 04, 2008

Era fim de outubro quando resolvi olhar o calendário de shows do ano...tinha surgido um rumor de que ele viria para o Brasil, mas não era nada confirmado...

Meus olhos não queriam acreditar quando vi a data do dia 13 de dezembro confirmada....não contente entrei na página da ticketmaster pra ver se era mesmo verdade...o ingresso custava 140 reais, e o sonho de 14 anos estava separado por apenas dois meses...

Minha euforia era tão grande, que eu só vi: vendas a partir do dia 29 de outubro...não pensei duas vezes...era esse o dia que eu teria em minhas mãos um pesaço de sonho...

E é de sonhos que se alimenta a alma...e que se vive um homem completo...

Passei o dia 29 no estágio pensando: 'é hoje que eu vou ter em minhas mãos 14 anos de espera'....saí de lá contando os minutos para estar em frente ao guichê e pegar o ingresso em mãos...

Era meio dia e meia, um sol de matar, um calor infernal e uma marginal parada...os minutos não passavam e invariavelmente tudo parecia em câmera lenta...era a ansiedade batendo no peito e tudo o que eu já tinha vivido até ali passando pela minha cabeça...

Impressionante como lugares que são relativamente próximos se tornam distâncias de continentes quando o que você espera está pra acontecer...mas eu estava feliz, e nada me faria preocupar...

O frio na barriga era intenso quando eu parei o carro no estacionamento...eu queria gritar e falar pra todas as pessoas no mundo que eu tava lá...clichê...mas meu...

Tinham duas pessoas na minha frente...e quando eu finalmente chego no caixa, a conversa da atendente foi: 'estamos vendendo ingresso só pra clientes do citibank, pra o público, só semana que vêm...'...eu queria entrar dentro da cabine, socá-la, e pegar meu ingresso...eu ia pagar por ele, porque essa exclusividade?

Eu, com toda a calma do mundo, dei um sorrisinho amarelo e disse: 'mas, você não tá entendendo, eu esperei 14 anos pra comprar esse ingresso, eu vim de longe, me vende vai?' e ela vira e fala...'então, é só mais uma semana que você cvai esperar...você agüenta'

Eu devia ter socado a atendente...

Voltei pra casa indignada: 'só mais uma semana...atendente do $$%#$%$%....14 ANOS ESPERANDO, ELA NÃO SABE!!!...só mais uma semana...'.....'aaaaargh!'

E a cada dia que passava eu pensava : 'segunda...vai chegar segunda'...Mas na bedita segunda, pós feriado do dia de finados, em que eu passei dentro do hospital desidratando por causa de uma infecção intestinal, eu não fui no estágio, mas a tarde, eu mesmo arrastando, fui comprar o ingresso...

Não era qualquer coisinha q ia me derrubar...o ingresso tinha que ser meu...meu!

Fui tão pensando no ingresso que errei o caminho...mas cheguei lá...era a hora...na minúscula fila eu só pensava que o show poderia ser no dia seguinte...poderia ser na mesma noite...e mais nada...

Quando eu pedi 'um ingresso pro show do Chris Cornell, pista, por favor', minhas mãos tremiam...quando eu paguei, e ela me entregou o ingresso em mãos, eu não vi nais nada...sai de lá falamdo 'é meu, é meu', pulando até o carro, porque pagar mico é essencial...

As semanas forma se passando, e até uma semana antes, eu não tinha me dado conta de muitas coisas...mesmo porque eu não queria pensar, não queria prever, não queria nada...eu só queria estar lá, dia 13 de dezembro...

Mas, uma semana antes do show, começou a expectativa...'como será que vai ser', 'o que será q ele vai tocar'...e crescia o 'como será que eu vou me comportar'

Quem me conhece, sabe a fundo o quanto ver o Chris era importante pra mim...estar lá era importante em todos os sentidos...era minha vida que ele ia pôr em letras de músicas, na minha frente, pela primeira vez...

E eu ia contando os dias, as horas e os minutos...e pensando que tudo tinha q dar certo no dia...o esquema tava feito...a hora q eu ia sair do serviço, a hora q eu ia sair de casa, o tempo que eu ia esperar lá, tudo...

Mas, no dia em si, as coisas não foram bem como planejadas...trabalhei até mais tarde do que previ, não saí no horário que ia sair e não esperei o tempo que ia esperar lá...

Duas horas contadas no trânsito, desespero total...desencontro com amigo por causa da chuva, e uma espera que pareceu interminável de 45 minutos...quando as luzes finalmente se apagaram, eu perdi a noção de mim...

Sai me enfiando entre as pessoas, pedindo uma licença meio forçada e chegando na terceira fila, num calor insuportável, e de um jeito que não dava pra se mexer...cutuquei um cara na minha frente, e pedi pra ele deixar eu ficar ali, pra eu ver melhor, afinal, eu sou muito pequena...

Nessas horas, a chantagem da altura me favorece..

Era um barulho só, e meus olhos percorriam loucamente o palco pra poder vê-lo...não me importava o calor, o aperto, a meu coração plando insistentemente nos meus ouvidos...eu não conseguia ouvir nada, a não ser a música...

Ele entrou, de jaqueta, cabeça baixa e um andar de gato manhoso...eu podia ouvir os passos se quisesse....eu reconheceria aquela voz mesmo depois de anos a fio...acho que até em outra vida...era a hora, e eu não podia fazer feio...e o grito saiu...

O empurra era tão intenso, que não deu pra tirar foto...e também tinha deixado a máquina em cima do banco do carro...não dava pra pegar..."Let me Drown"....'won't you let it, drown me in yooooooooou'

Eu sabia todas...mas a voz não saia, e a cara de idiota também não...e "Outshined" emendou...'show me the power child i'd like to say'...

Se eu disser que não lembro as seqüências das músicas, alguém acredita?...mas eu não lembro...só sei que quando ele tocou "Hunger Strike", eu fiquei esperando o Ed entrar no outro lado do palco...e quem não ficou?...mas a gente fez a voz dele direitinho...

Ai, ele resolveu fazer um acústico Medley...não deu pra agüentar...chorei que nem criança...e não tive vergonha de nada...era a minha vida, e a de mais ninguém...era minha vida passando pelos meus olhos...pelos meus ouvidos, pelo corpo todo...

Eu cantava, perdia o fôlego, sorria, e tudo era tão normal, tão verdadeiro, um sonho tão real...que eu não queria ver o fim...

Era tudo perfeito....o sincronismo da banda, com a voz, com a energia...era tudo real...transcendente....único...

Depois de um pedacinho de "Preaching..", tudo era lucro...os meus berros de 'Chriiiiiiis', a minha pedida incessante de 'Follow my waaaay' e meu braço levantado em pedido de súplica...era tudo maravilhoso, como uma cena de filme surreal e intensa...

Entre essa cena, meu olho cruzou com o dele, por dois longos minutos...e lá no fundo eu sabia que tudo o que eu tinha sentido, por tantos anos até ali, era real e verdadeiro...que tinha valido a pena estar ali, nem que fosse por um só minuto...era aquela a resposta que tinha esperado tantos anos...

Resposta de que a loucura tem fundamento...tem verdade...e que toda a loucura é um pouco sanidade, mesmo que seja só um pedaço insignificante para os olhos dos normais...

Nada ali era normal...nada no meu corpo era normal...e por dois minutos, eu senti que mesmo em pensamento, eu consegui liberar o 'thank you' reprimido...era tudo o que precisava...ter a certeza de que 'minha vida inteira era o meu dia inteiro' e que sentir é necessário...

Depois de dois encores, duas horas e meia de show, muitos gritos, lágrimas e certezas, o sonho chegou ao fim...e o fim foi a premissa de que aquele ano, foi o melhor, de todos...nada podia me dar a resposta, a não ser ele...em minha frente...

E assim, começo o ano...sentir é algo inexplicável...

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