quinta-feira, dezembro 29, 2022

Sleep tight

 Essa noite eu sonhei, que a água da chuva me levava e eu procurava um lugar pra me esconder, que estivesse seco. Eu sentia a água chegar até meu pescoço, depois sentia que eu deslizava pela água de uma forma tão fácil que nem parecia que estava numa enchente sem fim. Eu procurava algo, não só um lugar seco. Procurava trocar a roupa que estava encharcada, procurava entrar por um muro que tivesse uma brecha. Procurava algo que nem eu mesmo sabia o que era. Acordei com o suor grudando na nuca, me levantei escorando pelas paredes. Uma sede interminável. Voltei cambaleando pra cama. Tudo escuro, três horas da manhã em ponto no celular. A hora divina. A hora em que todos os portais se abrem. A hora que a madrugada se divide ao meio. Eu não conseguia dormir, mesmo grogue e alucinando eu tentei fechar os olhos. Meu coração disparado pela boca. Minha alma em algum lugar que não era meu corpo. E aí, de repente, eu firmei sua imagem em minha cabeça e pude sentir meus dedos entrelaçando seus cabelos, você de costas pra mim, num sono profundo, sem interrupções, sem nenhuma agitação. Suas costas se moviam tão tranquilamente enquanto respirava que me dava uma calma. E aí, tudo escureceu novamente, num sono que não era sono. Eu não lembro onde estava, mas lembro de continuar deitada, tentando dormir e sem conseguir. Meu cérebro em estado de alerta, eu me vendo deitada, imóvel, sem conseguir me mexer. E passei assim por mais algumas horas e num pulo levantei da cama novamente. As pernas não me obedeciam, eu só caminhava. Andei pela casa até voltar para o mesmo lugar. O sono não me vencia. Meu coração ainda agitado. Minha alma fora de mim. Estiquei meu braço em direção ao nada. Tudo vazio. Um vazio que doía e eu não sabia porque. Aí a memória afetiva trouxe novamente um cheiro conhecido, a lembrança dos dedos deslizando pelas mãos, o calor apertado de um abraço sem fim. O coração voltou a bater lentamente e num sono escuro e sem lembranças eu embarquei. 

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