quinta-feira, março 24, 2016

"‘Como você pode fazer isso? Tá com essa mania agora de querer me controlar? Saber o que estou fazendo, onde estou? Eu estou trabalhando Daniel, trabalhando!’ – eu gritava enquanto entrava em casa
‘Pra um cara bem bonitão até, né? Você não acha?’
‘Daniel, ele tem o dobro da minha idade, se não tiver mais! Você está insinuando o que?’
‘Que homem só quer mulher por perto você sabe pra que!’
‘Não seja ridículo Daniel! Se você é esse tipo de canalha, ótimo! Mas ele é meu chefe Daniel! Meu chefe! Você só pode estar maluco!’
Eu andava pela sala, impaciente, irritada, como se naquele exato momento eu tivesse enxergando realmente a minha infelicidade com Daniel.
‘Eu vi o jeito que ele olha pra você!’ – ele dizia, se encaminhando em minha direção, pronto a me atacar
‘É claro, ultimamente você anda desconfiando até da sua sombra! Você acha que eu sou o que? Pra você, todos os caras do universo iam querer me levar pra cama?’
‘O tiozinho tá achando que vai te levar’
‘Daniel, larga a mão de ser ridículo! Eu não vou ficar aqui ouvindo você falar essas merdas, vou lá pro bar, hoje é quinta e os meninos devem estar por lá, aliás, você também deveria estar, trabalhando Daniel, mas você num curte muito mesmo a coisa, né?’
‘Você não vai a lugar nenhum Alice, lugar nenhum! Se você estivesse por aqui ou prestando atenção em mim, saberia que hoje Sam nos deu folga! O bar tá fechado, ele teve que viajar as pressas, junto com John. E seu amiguinho Lex, não está em casa pois foi com eles para fazer companhia, portanto, hoje você não vai a lugar algum!’
‘Ah, vou, aqui é que eu não vou ficar, não quero olhar pra sua cara!’ – e nisso fui me encaminhando até a porta. Daniel me puxou num ímpeto, me jogando contra a parede
‘Você tá louco? Saia da minha casa, agora, não quero mais você aqui! Pega suas coisas e vai embora!’
‘Ah, não vou não! De hoje, você não me escapa’ – e nisso trancou a porta e o trinco com nós dois lá dentro. Ainda tentei correr pra tentar destrancar tudo, mas Daniel me jogou no chão
Pela primeira vez em todo aquele tempo que estive lá, senti medo. Já tinha brigado com Daniel, mas era a primeira vez descarada que ele usava de violência.
‘Daniel, para com isso, abre essa porta, me deixa sair’ – levantei e fui tentando novamente caminhar até a porta
Daniel foi se aproximando de mim, me encurralando entre a parede e seu corpo.
‘Daniel, me larga, me larga, me deixa sair, por favor’
‘Olha, não é que você sabe realmente pedir por favor?’
‘Daniel, o que você vai fazer?’ – nesse momento as lágrimas começaram a cair de meu rosto sem eu perceber, eu quis gritar mas quando percebi Daniel colocou sua mão sobre minha boca
‘Eu, vou fazer o que eu deveria ter feito há muito tempo. Afinal, você é minha, só minha’
Daniel rasgou a minha blusa e segurou forte os meus braços contra a parede enquanto eu tentava sair. Ele era infinitamente mais forte que eu e toda vez que eu tentava escapar, ele me batia. Eu queria gritar, naquela noite eu estava sozinha. Ele parecia ter planejado tudo.
Chegou uma hora que por mais que eu tentasse sair, eu já não tinha mais forças, ele me jogou no chão e arrancou minhas calças enquanto eu inutilmente me debatia, fui perdendo progressivamente as forças ao passo que a dor que eu começava sentir dentro de mim ia crescendo.
Naquele momento, eu só conseguia pensar quando que tudo aquilo ia acabar. Não tinha mais forças pra gritar ou me mexer. Meus braços e pernas doíam. Eu sangrava. E ele me olhava satisfeito, saindo pela porta e me deixando deitada no chão.
Enquanto eu chorava compulsivamente, olhava pras minhas roupas rasgadas e os vergões iam começando a aparecer por todo meu corpo. Tudo pareceu um pesadelo torpe, onde a única coisa que eu ouvia eram meus soluços e meu coração batendo acelerado em meus ouvidos.
Subi me arrastando pelas escadas e me arrastando fui até o banheiro. Lá me tranquei e passei um tempo desconhecido debaixo do chuveiro, sentindo vergonha de mim e de meu corpo e até da vida. Eu não conseguia chorar mais, como se todos os meus sentidos naquele momento tivessem anestesiados. Não sentia nada. Eu sabia que a partir dali não sentiria mais nada. Finalmente eu entendia o que Louis dizia por estar morto por dentro.

Inutilmente me esfregava até arrancar sangue, mas aquela sujeira não saia de mim. Desliguei o chuveiro, me deitei no chão do banheiro vestindo o pijama que havia deixado na manhã por ali e adormeci, sem que eu pudesse perceber. Não sonhei, nem sei ao menos se não morri por algumas horas."

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