domingo, março 14, 2010

Ela olhava para o horizonte vendo o sol se por naquela tarde, olhando fixamente pelo muro. As mãos no bolso significavam algo que queria guardar loucamente, mas já não podia mais. Seu rosto tinha uma expressão de dor contida, como já não sentia há uns bons anos.

Aquilo tinha que tinha que acabar. De uma forma ou outra. Se entregou tanto a sentir algo tão tranquilo que esqueceu as turbulências do mundo. E aquele vai e vem de problemas tinha se tornado uma constante nos últimos meses.

Ele chegou quieto. Seus passos eram leves mas não entendia o por que daquela comoção. E por minutos ficou olhando a cena junto com ela, sem trocar nenhuma palavra.

- Você gosta dessas coisas, né? - disse ele quebrando o silêncio

- Sim, e vou gostar a minha vida toda. É tudo tão tranquilo quando a gente vê a natureza fazer seu papel, sem reclamar. A gente reclama toda hora, de tudo, sem ao menos notar que o mundo se vira sem a gente.

- E por que me chamaste?

Ela então se virou e olhou bem em seus olhos. Queria dizer que chamou só porque tinha saudades, mas não eram só as saudades que lhe traziam ali. Eram também as dúvidas, a confissão.

- Te chamei pra dizer que te amo...

Ele olhou com um ar descrente a tudo aquilo. As palavras saíram tão firmes que ele quase não acreditou no que ouvia.

- E dizer que te amo, não pode ser dito pelo telefone. Tem que olhar no olho, ver a verdade estampada no rosto do outro. E ver a mesma reação que vi em seus olhos.

- Eu sei, mas... o que aconteceu?

- E pra amar alguém precisa acontecer alguma coisa? Precisa ter hora marcada? Pessoa certa?

- Não, não precisa, mas não foi isso que quis dizer....quis dizer, como se...

- Se você é a pessoa errada? Eu também me perguntei. Mas não teve explicação. O fato é que você não pertence ao meu mundo, não faz parte de tudo o que acredito, não tem as mesmas expectativas da vida que eu, mas aconteceu...

- Olha, você é uma pessoa maravilhosa...

- Mas sou mulher, não menina. Não me iludo facilmente com as coisas. Pode acreditar, todas as coisas que você poderá me dizer, eu já pensei.

Por um segundo, uma raiva cresceu dentro dele. Ela tinha todas as respostas, prontas, claras. O que teriam que discutir? Mas ela mexia em seus cabelos e ele podia lembrar do primeiro dia que a viu...

- O problema de tudo isso é que eu também sei, que seus sentimentos por mim não vão muito longe...

- Você não pode assumir o que não sabe! Você não está dentro de minha cabeça pra saber o que eu sinto ou deixo de sentir! Sabe, você está assumindo todas essas coisas porque acha que sabe de tudo da vida, que é experiente e tudo mais... - a raiva dele crescia..

- E se você tivesse esse mesmo sentimento estaria então agindo dessa forma? - ela sorriu serenamente...

- O que você queria de mim? Você me desprezou por tanto tempo, se defendendo de algo que eu nunca consegui enxergar. Você sempre se demostrou alheia a qualquer atitude que eu tomasse...

- Não me importo com mimos, meu querido. Me importo com a sua expressão, como o seu corpo reage junto ao meu. Como me olha, como me beija. O seu sorriso. Com isso que me importo. Me importo com o comprometimento. Mas como você joga toda a responsabilidade dessa relação nas minhas costas? Ela foi feita a dois...

- Mas tinhamos um trato...

- Trato que nunca existiu. E eu simplesmente sinto, só.

- Não sou o cara certo pra você e você sabe disso...

- O que é ser certo nessa vida? Não dar mancadas? Não brigar? Ser perfeito? O perfeito não existe. E se existe, é chato pacas...

Ele queria contra argumentar. Não que não tivesse nenhum sentimento por ela. Tinha. Gostava de sua companhia, suas conversas, do seu jeito de encarar a vida. Talvez gostasse mais dela do que ela mesmo imaginava. Mas nunca tinha pensado até ali se era amor. Ela por força de expressão, rompeu novamente o silêncio:

- Mas estou abrindo mão. Abrindo mão porque não quero mais sofrer, nem te fazer sofrer...

Ele se aproximou dela rapidamente e pegou sua mão...

- Não espera, as coisas não podem ser assim...

- E serão como? Um dia estaremos os dois quebrados, tentando ser fortes, lutando contra o que realmente queremos. E reclamando. Olha lá o sol se pôs e amanhã fará a mesma coisa porque é assim que tem que ser.

- E a na vida da gente faz nossas próprias escolhas...

- Entendeu o por que te amo agora?

- Sim...

O mundo continuou por todos os dias, mesmo sabendo que mais um amor terminou...

4 comentários:

Tiago Lourenço disse...

Sempre haverá amor, porquê você não o escolhe, e sim ele à você...
Mesmo com toda sua dor, dúvidas e até mesmo solidão(todas essas que você troca por cinco segundos de um sorriso, de uma palavra ao telefone, de um abraço '\o/' ou de um nobre beijo.).

E assim como a Fênix ele sempre há de renascer.

Num sorriso bobo ou numa lágrima isolada.

lovesoul disse...

Concordo...mas como tudo nessa vida tem coneço, meio e fim...uma hora ele renasce, mas o ciclo nunca termina, igual a uma fênix....

Beijooo

Tiago Lourenço disse...

O que mais admiro na Fênix não são as suas cores, ou sua coragem e até mesmo a capacidade de sacrificar-se pelo seu ideal. O que mais me identifica nesse ser magestoso talvez seja que mesmo com toda sua grandeza ela nunca precise dizer adeus.

Talvez ela será sempre uma alma solitária.

lovesoul disse...

É, tenho que concordar com vc... :)