Ela parecia flutuar enquanto seus pés batiam no chão. Tudo era nebuloso, uma fotografia de um filme da idade média. A neblina era fina, mas o ar que batia em seus braços era gelado. Jogados no chão de terra e folhas secas ela via todas as imagens de sua vida. Se viu rindo, chorando, dormindo, em plena felicidade e pleno desgosto. Sob os pés ela podia sentir a terra úmida entrando nos seus dedos, e mal conseguia se locomover para não tocar em suas memórias e acordá-las todas de uma vez. Ela se perguntou o que aconteceria se tocasse em alguma delas? Tomaria vida? Traria os sentimentos perdidos dentro de seu peito novamente? Sentirá medo? Saudades ou só viria tudo como num rolo de câmera que passa em um telão branco? Conseguiria ela se mover sem acordar nenhum monstro ou tocar em lembranças que lhe derramaria lágrimas? Enquanto ela tentava entender o que acontecia em seu redor uma voz grossa veio do meio das árvores mortas e vivas que completavam o cenário ao meio de um céu azul do clarear do dia. “Porque tens medo de tocar em sua própria vida?”, e ela respondeu baixinho “porque esses são retalhos que costurei e guardei para revisita-los em algum dia especial”. “E quando esse dia vai chegar? No seu último suspiro?”, disse a voz querendo repostas práticas. “Não” - ela lhe respondeu firme - “mas no dia em que eu não tiver que esconder mais nenhum sentimento dentro de uma caixa”. Ela então fechou os olhos e uma lágrima escorreu lentamente até seus lábios, e quando abriu. Tudo tinha desaparecido e de repente a voz que ouviu lhe estendeu uma mão fria e firme e disse. “Então segue, pois você terá que abrir a caixa, senão a cura nunca vem”. E então caminharam pela terra e folhas secas até sumirem juntamente com a bruma que os acompanhou.
segunda-feira, novembro 24, 2025
domingo, outubro 12, 2025
Like the desert miss the rain
Eu sinto sua falta o tempo todo e mesmo assim você não percebe
Não percebe o quanto me corta o coração não sentir seus braços
O quando me dói fingir que não te vejo
O quanto machuca sorrir e por dentro soltar lágrimas
Voltar por um caminho escuro e só
Com uma música alta preenchendo meus ouvidos
Vejo o horizonte se espalhando num breu sem fim
Saudades que dói, não há como evitar
Mas não é saudades do seu corpo
É só seu olhar
Do seu cheiro
Da sua mão passando levemente em meu rosto
Do sorriso
Do abraço
Do carinho leve que seus dedos fazem quando entrelaçam meu cabelo
Saudades de olhar no olho e se sentir em casa
domingo, outubro 05, 2025
Someday you will ache like I ache
Hoje não quis me olhar no espelho, mas quando fechei meus olhos vi o maior espelho refletindo minha imagem. Olhei firmemente pra ele e vi refletida alguém que se abandonou. Olhe em volta e não tinha ninguém, só eu sem um sorriso no rosto, sem uma cor nos lábios, os cabelos desgrenhados e as roupas puídas. Foi isso que eu me tornei depois de tantos anos lutando pra não me derrubar mais. De quem é a culpa? Minha. Desse coração torto, dessa cabeça confusa. Dessa pessoa que se enxerga mais não se vê. Não se dá valor. Não se ama em plenitude. Que sempre fez tudo pra ser vista pelo mundo, mas nunca foi vista por si mesmo. E tantas lutas eu venci, tanto suor escorreu dessa testa, tantas vezes o coração quis saltar do peito e da boca. E eu resisti. Mas porque é tão difícil se amar na plenitude? Porque a gente só enxerga os defeitos e o mundo aponta seus defeitos. Como esperar gentileza do próximo se eu não me trato com gentileza. Se não me dou valor. Se me sinto substituível a qualquer segundo. Porque é isso que eu sempre espero. Ser substituída, ser inferiorizada. Mas eu mesmo causo esse sentimento. Eu olho pros outro e penso, eu não sou assim, não chamo atenção. Não encho os olhos e o coração de ninguém. Me esqueço na comparação com o próximo. Mas sou um ser humano como outro qualquer. Com alegrias, tristezas, preocupações. Eu não sou tão difícil de decifrar, meus sentimentos estão sempre a flor da pele. Eu tento fazer o que posso pra que o próximo me reconheça. Esqueço que o próximo, não nos retribui na mesma moeda. Pra que esperar a validação do outro, se eu mesmo posso me validar? A
Interminável questão do inseguro.
sexta-feira, setembro 26, 2025
Winter
Incrivelmente desagradável
Majestosamente autoritária
Puramente repugnante
Deliciosamente intragável
Loucamente sem coração
Alegremente dramática
Agradavelmente surtada
Incrivelmente grossa
Lindamente insensível
Maravilhosamente mesquinha
Absolutamente tóxica
Facilmente manipulável
terça-feira, setembro 23, 2025
Are u afraid of what?
Eu não me entrego fácil assim. Eu sou o pacote completo. E pra sentir desejo, preciso de uma conexão maior. Um estado de felicidade que me faz querer sem pensar.
Eu não funciono só sendo pele, vontade que não passa. Eu sou alma, carne, osso, coração, sentimento que transborda. Eu sinto demais.
Tem horas que ouço dizer que eu não me permito ver que tem gente que quer cuidar de mim também. O que os outros sabem que eu não sei? Que alguém mete o pé na porta da minha vida pra escancarar o que eu guardo de mais precioso? E que vai deixar ela aberta, pra eu saber que sou capaz de deixar qualquer um entrar nela? Que eu sou capaz de ser desejada? Eu não quero ser desejada, eu quero amor na plenitude. Mas não pode ser do meu jeito e sim do jeito que os outros escolhem pra mim? Que escolhem esse momento e acabou? E eu me pergunto: porque eu não posso ter a escolha de amar ou desejar quem eu quiser? Porque se for pra isso, esquece, eu tranco essa porta com a chave de novo. E jogo ela fora, porque não vai ser qualquer pessoa que vai acessar o que tem de bom dentro de mim. Eu só dou o que tem dentro de mim pra quem merece, mas quem eu quero que mereça.
Eu não sou bela recatada e do lar. Não sou mulher que cuida de homem como se fosse filho. Não embalo o que não pari, não abaixo minha cabeça pra aquilo que acredito. Eu sou furacão e não chuva fina. Sou de opiniao, ação, tom alto de voz e uma alma que não cabe no peito.
Eu não me permito mais sofrer, por isso cheguei até aqui, escorregando, mas levantando novamente e sendo forte. Eu não gosto de seguir em um barco, de olhos vendados e sem saber onde ele vai chegar.
Eu não imploro por migalhas, porque se eu faço, eu cheguei no fundo do meu poço como mulher. E toda decisão que tomei, mesmo sabendo que todo destino poderia mudar, foram escolhas conscientes daquilo que eu aceitei as consequências. Mesmo elas sendo duras.
Eu jurei pra mim que nunca mais ia implorar por carinho. Que palavras, atitudes e afeto são coisas expontâneas, que a gente faz sem pedir.
Quem tem medo de dizer a verdade, tem medo de encarar a realidade e as consequências que vão surgir junto com elas. Porque a verdade vai trazer a uma escolha. E toda escolha tem consequências que pode nos prejudicar.
Do que tens medo? Porque não diz a verdade que está presa na garganta? A verdade que achou que algo não ia acontecer e agora não sabe se livrar disso. Que há expectativas demais de algo que não pode suprir ou não quer por que não era isso que queria que acontecesse? Me diz, o que teme tanto? Toda ação tenha uma reação. Basta não temer em ser sincero consigo mesmo.
domingo, setembro 14, 2025
Preparations
Ah que vontade eu tenho de ouvir sua voz e me aninhar no seu peito. Fechar meus olhos e não me preocupar com a vida. Não me preocupar com o dia de amanhã. Trançar meus dedos no seu, ouvir histórias que só fazem sentido pra nós, até que eu adormeça sem perceber.
Ah que vontade que eu tenho de te dizer bobagens e ver você sorrir enquanto eu falo palavras desconexas e presta atenção no movimento dos meus cílios, enquanto eles fecham e sorriem sem que eu me expresse para isso.
Ah que vontade que eu tenho de pular em suas costas e você me carregar que nem criança, enquanto eu abraço seu pescoço e digo o quanto você é importante para mim.
Ah que vontade que eu tenho de não parar de beijar sua boca e sentir suas mãos deslizando pelas minhas costas, enquanto ouço sua respiração e sinto a ponta de se nariz passar pelo meu pescoço.
Ah que vontade que eu tenho de ser livre das amarras que eu mesmo coloquei em minhas mãos. Pra que elas alisem seu rosto e traga a paz que nós tanto tentamos ter.
quinta-feira, julho 24, 2025
A noite
Sabe o que é querer falar e silenciar?
Querer gritar e sufocar?
Sabe o que é a cabeça explodir em mil pedaços e ela só ficar martelando os pensamentos?
Sabe o que é sentir culpa e ela te corroer feito ácido que queima, levantando bolhas na pele?
Sabe o que é querer tocar o que não pode?
Sabe o que é saber que se está fazendo tudo errado e não conseguir parar?
Essa é a dor que sinto
E eu não quero mais sentir dor
Não quero mais me sentir só
Não quero mais ter que lidar com tudo isso só
Eu preciso que a mágoa pare de me atingir
Preciso que a dor tenha fim
Eu já não aguento mais decepções
Alma rasgada
Humilhação e desprezo
O que eu fiz de errado além do que faço conscientemente?
Meu coração parecia estar em paz
Grudando cacos de outras dores
Hoje parece que enfiaram a mão dentro dele é apertaram até eu me sentir paralisada
Com o ar que não chega até os pulmões
Com as lágrimas que caem secas dos meus olhos
Eu me rendo
Não tenho mais a quem implorar
Não tenho como manter o que me escorre pelos dedos
Não consigo afugentar essa solidão
quarta-feira, março 12, 2025
You’re so vain
Eu faço uma força pra te esquecer, mas quanto mais força eu faço, mais eu me lembro de você. Eu sonho vividamente e sinto seus braços me envolvendo. Eu quero me desapegar e lembrar de outros rostos, outras paisagens e outras conversas. Quero ter outras vivências, outras experiências e ter outros sonhos. Mas quanto mais eu tento, mais meu subconsciente te joga na minha frente, sem eu mesmo querer. Eu faço aquela força louca de não gritar, de não derramar uma lágrima, de não sentir mais nada. E viver livre de qualquer esperança ínfima que ainda reside em meu peito. A vida não seria mais fácil, mas seria normal. Ter outras esperanças, ter outras vidas.
domingo, janeiro 12, 2025
Fuel to fire
“Eu sou capaz. Capaz de me liberar dos meus traumas. Olhar e falar, eu consegui. Eu não sou desprezível. Porque eu não me sinto mais assim. Eu não me sinto desprezível, nem invisível. Eu me senti invisível por muito tempo. Hoje não mais. Hoje eu vejo uma mulher que chegou em lugares que poucos chegaram. Que alcançou voos tão altos que nem ela mesma sabe como, mas alcançou. Que passou por tudo. De humilhações até a total loucura e conseguiu levantar do buraco que se enfiou. Eu por muito tempo perdi a confiança no que era capaz de fazer. Achei que a dor levaria a minha vida por completo. Até o ponto que eu não aguentasse mais. E eu agradeço a cada um que me levantou e me estendeu as mãos. Mas toda corrida precisa de uma linha de chegada.”
Eu escrevi isso em janeiro de 2024. Mal eu sabia o turbilhão que seriam os próximos meses do ano que terminou há poucos dias. Tiveram dias que eu quis desistir. Tiveram dias que eu chorei de raiva, de angústia, de desabafo e alegria. Tiveram dias de agitação, de felicidade, de cansaço e alegrias incomparáveis. E tiveram dias que eu caminhei em direção a um objetivo. Traçar mil planos não adianta. Mas eu percebi nesse último ano que subi um degrau por vez. Que pra chegar em algum lugar eu parei e observei por um bom tempo. E foram nessas horas que eu sentia que estava estagnada. Mas pra conseguir chegar no fim da escada eu tive que lidar com o que é mais complicado pra mim. A paciência, a ansiedade, a vontade de resolver tudo no meu tempo. E a cada ano que vai se passando eu percebo que nada vem no tempo que eu escolho. E sim no tempo necessário pra que o que eu alcançei não se perca pelos meus dedos. Parece fácil falar, mas a cada no dificuldade, raiva, stress e crise que eu tive, eu também tive os momentos em que tudo isso sumia com o meu exercitar diário da respiração e da mudança de foco. Não é fácil, mas é gratificante evoluir. Nem que seja uma escada de somente dois degraus.