sábado, outubro 04, 2003

Sweet Release

"My ears are still ringing. That was the loudest crowd I've ever played to and trust me we've played to great audiences but this was insane! My personal highlight was watching the crowd go nuts for Pain Lies On The Riverside. When Gracey hit those four trademark snare shots and started rocking the shaker the building literally started to move. That was the first time in maybe two years that we played that song and we nailed it without rehearsal, I guess it's like riding a bike, except X-Games style."

Fonte:www.friendsoflive.com



Quinta-feira, 25 de setembro de 2003, em frente ao Via Funchal:

- Errrr, moço, como é que eu faço pra subir no mezanino?
- Tem que pegar essa fila...
- Ah, tá bom...

Fui caminhando...

- Não Chi, é por aqui!

Entramos no lugar, e quando vi, tava indo pra pista...me deu uma vontade incontrolável de grudar na frente do palco e ficar ali...mas, já que a gente tinha pago dez reais mais caro, subimos...

Já não é a primeira vez que vou em alguns shows, e noto a quantidade de pessoas que estão sozinhas...me lembra quantos shows eu fui assistir sozinha...é estranho...lembro quando fui no show do Smashing Pumpkins, e dois caras estavam sentados na mesa que eu estava lá no Olympia...e os idiotas ainda pensavam que eu não estava entendendo nenhuma palavra que eles falavam em inglês...bando de meninos mimados....

Mas, deixa eu explicar porque sempre eu falo que estou nas cadeiras, e etc...meu 1,52 e meio (!) não permitem que eu fique na pista com um bando de selvagens (hehehehe ;) )...e ninguém agüenta meus ataques histéricos, sabe? ;)

Bom, nada tinha começado e aquele estado eufórico característico de pessoas reprimidas, as coisas iam como Deus sempre quer, com o Queens Of The Stone Age pros garotos e a voz do Mark Lanegan no fundo pros mais velhos...e o Audioslave, porque afinal, o Ed gosta....

Uma banda de reggae antes de um show do Live ninguém merece...nem uma amiga escandalosa ao lado gritando em sua orelha, em seu primeiro show, no mal caminho que eu costumo levar a quem me rodeia...

Mas quem é mesmo que estava esperando o Ed Kowalczyk subir no palco pra falar de água, oriente, mundo e amor?!?

E quem nunca sentiu aquele friozinho na barriga quando viu o palco todo ser montado, e a bandeira subindo, e a casa enchendo...e as luzes apagando?

E não dava pra conter a emoção de ir ver de novo o show que na minha opinião, até agora tinha sido o melhor de toda minha história....e olha que não foram poucos...mas esse tinha algo de especial...

Porque há três anos atrás foi especial....e não dava pra esquecer aquele homem de cabelo comprido fazendo introdução de mantras indianos na “I Alone”....e será que ela viria?...e será que o mundo iria se resumir em apenas aquele momento?....e será que mesmo de longe eu iria conseguir estar conectada com aquele universo que era tão meu, e ao mesmo tempo iria me provar o quanto minha vida é medíocre e sem sal, com alguns momentos de recordações fortes...

Mas como sempre eu estava ali, e segurando na mão de anjos....e estava longe pensando na vida que me pregava peças....e que não queria pensar, porque certos momentos, nossas cabeças deveriam ser como baldes de latas velhas enferrujadas....esquecidas no meio do beco....

O sonho de todo rebelde é uma guitarra e uma calça de couro....na verdade uma blusa de flanela...ou uma calça jeans rasgada...ou na verdade, um boné velho....e sem isso, o que um rebelde pode fazer?

Tinha a guitarra....e todo o resto....e a voz lá de longe...de uma mente inteligente...fascinante....de um sonho de menina...

Poderia o mundo quebrar em mil pedaços, porque aquela noite não poderia ser ruim....e nada, faria com que eu cedesse a pressão de meu corpo....porque ele eu comando e dele só eu sei, já diriam todos os indianos...

Mas se havia algo a ser provado, passei com mérito....pra que vê-los cantar “Sparkle”?....ou esperar ansiosamente pra prestar atenção naquelas músicas que só meninas bobas como eu fui, err, fui, sabiam de cor?

Tinha tanta coisa nova, tantas luzes, um homem lá em cima pulando com pulmões de ouro e voz abençoada de anjo que esqueceu onde era seu devido lugar, que não dava nem pra saber o que era velho e o que era novo....

Foi tudo misturado, “The Sanctity Of Dreams” com “All Over You” e “Like I Do” com “Run To The Water”, e “Run Away” com “Sweet Release”, “Beauty Of Gray” com “Heaven”....e clássicos....e eu passando mal no meio da “Life Marches On”, achando que era “Waitress” quando eu percebi que não era brincadeira....

Eu achei que o mundo ia acabar e que meu peito ia explodir, sem esforço pra pensar em toda a minha vida....tudo ficou mudo, e eu não ouvia nada, a não ser meu próprio coração batendo....bantendo muito....batendo a 200 por minuto...sem mesmo achar um motivo de violenta emoção pra tal fato....

Corri pro banheiro, porque era um lugar mais acústico e que se eu precisasse, iria deitar....mas, por que, justo aquela hora, meu corpo tinha resolvido me agredir?...estava fazendo tantas coisas certas....estava me comportando tão bem....por quê?

Consegui ouvir de longe a “Lakini’s Juice”, e eu queria sair correndo pra poder pular, mas eu não tinha forças....só pensava em que eu era dona de meu corpo, e que eu podia controlar meus instintos....que poderia controlar minha mente....que poderia controlar a vida que estava sendo joganda em minha frente...a oportunidade de perceber o quanto tudo é pequeno....enquanto eu provava que nada era por acaso....alguém me ‘besuntava’ (sic) em água...lembra?!?...ainda não pude te agradecer, mas se você não estivesse lá, o que seria de mim?...obrigada ;)

E aí, lá pro meio da música, eu resolvi voltar, porque tinha prometido a mim mesma não deixar nada me abalar....nem a merda das teorias dos neurologistas....nem aquele maldito antidepressivo....nada iria me abalar, porque assim como a batida das baquetas nos pratos, meu ouvidos poderiam sangrar, minha alma se esvair, mas eu tinha prometido a mim aquele momento de paz....

Claro que outro alguém foi me comprar água...e ficou preocupado....e me distraiu....assim como os dois ficavam me zoando pra eu olhar ele lá no palco sem camisa.... ;)
E porque ele foi cantar “I Alone”, justo naquele momento?....porque tinha que emendar com a “Like A Stone” e sorrir enquanto fazia todo mundo cantar ‘in a house alone to be, room by room patienly....’?!?

Arranca logo de vez o meu coração, já que ele tinha resolvido brincar de escola de samba...

Mas, nenhum de nós resistiu o ‘the way you’re bathed in light...’....e aquelas mãos gesticulando no ar, com aqueles olhos abertos, querendo abraçar o mundo....não pude evitar de querer derramar a lágrima que não deveria sair, mas era a graça da vida, e eu tinha sido presenteada de poder ter continuado no meio do show da vida....

Ha! E quem não foi perdeu,o primeiro break....pra ele cantar “Turn My Head” com um violão e errando umas posições, “Voodoo Lady”, “Selling The Drama”....e ver o Via Funchal inteiro pular ao som de “Pain Lies On The Riverside”, e ele dizer que a banda tem um carinho especial pelo povo brasileiro....que desde os dezenove anos deles, que eles vieram pela primeira vez ao país, foram bem recebidos....e que voltariam sempre que possível....

E aí, tudo se apagou e todos gritando...e meia noite....cadê mais?....cadê?....e o resto?....e os onze anos de música?....onde estavam?...estavam passando e ninguém percebeu....

Ninguém percebeu a história triste de uma mãe....e meu sorriso no meio da “Lighting Crashes”....com mais algumas músicas novas, e pra fechar, “White, Discussion”....porque afinal, a gente ainda não prestou atenção nas mensagens...

Dessa vez não teve “Imagine”, mas quem precisa?

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