Ela parecia flutuar enquanto seus pés batiam no chão. Tudo era nebuloso, uma fotografia de um filme da idade média. A neblina era fina, mas o ar que batia em seus braços era gelado. Jogados no chão de terra e folhas secas ela via todas as imagens de sua vida. Se viu rindo, chorando, dormindo, em plena felicidade e pleno desgosto. Sob os pés ela podia sentir a terra úmida entrando nos seus dedos, e mal conseguia se locomover para não tocar em suas memórias e acordá-las todas de uma vez. Ela se perguntou o que aconteceria se tocasse em alguma delas? Tomaria vida? Traria os sentimentos perdidos dentro de seu peito novamente? Sentirá medo? Saudades ou só viria tudo como num rolo de câmera que passa em um telão branco? Conseguiria ela se mover sem acordar nenhum monstro ou tocar em lembranças que lhe derramaria lágrimas? Enquanto ela tentava entender o que acontecia em seu redor uma voz grossa veio do meio das árvores mortas e vivas que completavam o cenário ao meio de um céu azul do clarear do dia. “Porque tens medo de tocar em sua própria vida?”, e ela respondeu baixinho “porque esses são retalhos que costurei e guardei para revisita-los em algum dia especial”. “E quando esse dia vai chegar? No seu último suspiro?”, disse a voz querendo repostas práticas. “Não” - ela lhe respondeu firme - “mas no dia em que eu não tiver que esconder mais nenhum sentimento dentro de uma caixa”. Ela então fechou os olhos e uma lágrima escorreu lentamente até seus lábios, e quando abriu. Tudo tinha desaparecido e de repente a voz que ouviu lhe estendeu uma mão fria e firme e disse. “Então segue, pois você terá que abrir a caixa, senão a cura nunca vem”. E então caminharam pela terra e folhas secas até sumirem juntamente com a bruma que os acompanhou.