"Chegamos em Las Vegas quase no final da semana,
dois dias antes do show, dando tempo de comprar o ingresso e se acomodar na
cidade tranquilamente. Os meninos não iriam, afinal, queriam gastar o dinheiro
do ingresso no cassino, obviamente.
Aliás, magnetismo da cidade ou não, os meninos
alucinaram em Vegas. Cacá quase casou, Fabio torrava o resto do nosso dinheiro
e John usava loucamente sua falsa identidade. Não os entendia, só ria e
observava. Não via a hora mesmo de ver Louis.
Outras bandas tocariam nesse mesmo show de Louis,
antes e depois deles e no dia da apresentação, me trocava toda nervosa olhando
as roupas que ainda não estavam sujas, pra encontra-lo. Cacá me viu nessa
euforia e veio conversar comigo antes de eu sair.
‘Vê se aproveita pra esquecer daquele Matthew hoje,
definitivamente’
‘Como assim?’
‘Tá na hora de você olhar pro lado né? Ver outros
caras...’ – Cacá sorria pra mim
‘Tá falando do que Cacá?’ – eu falava enquanto me
trocava
‘Estou falando de Louis. Eu investiria num homem
como ele se fosse mulher’
‘Que é isso Cacá, Louis é meu amigo’
‘Vocês mulheres são todas iguais. Querem um cara
romântico e todo bonzinho e quando têm, dispensam ele pro primeiro traste que
encontram. E o cara vira o melhor amigo’
‘Não fala assim! Louis sempre foi meu amigo!’
‘Uhum. Coitado. Mas confessa aqui, só pra mim, se
ele te desse bola, você pegava?’
‘Nossa! Como você é insensível!’ – e Cacá ria,
enquanto eu lhe dava um tapa no braço
‘Alice! Pega vai! O cara é tão fofo! Eu me
apaixonaria por um homem fofo daquele’
‘Que é isso? O que é que te deu homem? Louis é um
cara legal sim, um dos caras mais legais que já conheci...’
‘Sim, um fofo! E aqueles olhos azuis? Minha
nossa...’ – Cacá ria sem parar
‘Mudou de time?’ – lhe perguntei rindo também
‘Nunca! Jamais! Sou homem! Macho! Mas não nego que
o cara é bonitão, vai dizer que não acha?’
‘Acho...’ – e respondi toda cheia de vergonha, o
rosto queimava
‘Ah! Eu sabia! Senhoras e senhores, eu sabia!’
‘Larga a mão de ser besta!’
‘Tá, agora sério. Se dá essa chance de ser feliz’
‘Louis não merece alguém tão péssima quanto eu.
Aliás, olha pra mim, ficaria comigo se fosse ele?’
‘Com você e com mais umas mil! Cara, se eu fosse
fofo daquele jeito e com aquele olho azul, pegava mulher até não poder mais!’
‘Sim, aí ia ser canalha e não um fofo!’
‘É, pensando por esse lado...’ – e ele riu
‘Vai, deixa eu ir senão eu perco o show. Não sei se
vou vê-lo, mas se eu chegar tarde não se preocupe porque posso ter conseguido
falar com ele e...’
‘E nem volte! Faço gosto que fique a noite inteira
com ele!’
‘Cacá, para!’ – lhe falei rindo
‘Vem aqui, me dá um abraço. Tá bonita, cheirosa’ –
ele falou me abraçando
‘Você é fogo!’
‘Faça o que te der vontade, só por favor, não pense
naquele Matthew, ok?’ – e me olhou nos olhos, como se eu fosse sua irmã
‘Ok. Deixa eu ir’ – e lhe dei um beijo no rosto,
pegando a minha bolsa e saindo
‘Alice?’ – Cacá me chamou quando já quase fechava a
porta do quarto
‘Oi?’
‘Não esquece hein? Homem fofo e de olho azul tá em
falta’
‘Tchau Cacá!’ – e fechei a porta, dando risada
Quando cheguei no local, fiquei bem atrás, tamanha
a quantidade de gente. De repente a luz se apagou. Ouvi a música alta e só
consegui reconhecer a melodia quando Louis começou a cantar. Eu enxergava muito
pouco do palco, tamanha quantidade de cabeças pela frente e quando conseguia
ver um ou outro de relance, não distinguia muito bem.
Fui então me permitindo a ouvi-los no meio da
multidão. Algumas músicas eu conhecia, outras não e algumas tinha até ajudado a
gravar. Me sentia orgulhosa desse feito. Quando o show terminou e eles se
despediram, uma galera dispersou pra ir ao banheiro e outras pra pegar alguma bebida
no bar, fui me enfiando no meio das restantes e cheguei próximo do palco.
Enquanto algumas pessoas desmontavam o palco para a
outra apresentação, uma outra aglomeração se fazia e em um canto, pude ver um
grupo de pessoas em frente a um segurança. Quando me aproximei mais perto, pude
reconhecer TG.
‘TG!’ – gritei de longe, me enfiando entre as
pessoas que iam ficando bravas – ‘TG, tudo bem?’
‘O que quer?’
‘Sou Alice, amiga de Louis, lembra de mim?’
‘Olha, se quer falar com eles, tem que entrar na
fila’
‘Não TG, sou amiga de Louis! Trabalhei com ele em
Seattle há uns anos atrás, ajudei Mike a produzir um álbum com eles...’ – as
pessoas iam ficando cada vez mais bravas comigo – ‘olha, tenho o telefone dele!
Aqui ó’ – e puxei um pedaço de papel com o número de Louis anotado, com muita
dificuldade da bolsa – ‘se quiser ligar pra ele, pode ligar, ele vai atender!’
TG falou então pelo seu walk talk com alguém, se
afastando da aglomeração. Se não tivesse jeito, teria que sair e ligar pra
Louis e torcer pra conseguir vê-lo. Alguns minutos depois, as pessoas me
empurrando já, TG retornou.
‘Vem, tá liberada, pode subir por ali’ – e me puxou
pelo braço, me colocando pra dentro da grade que isolava as pessoas do palco,
me levando perto de uma escada
Quando subi as escadas, Kevin me esperava no topo
dela, pelo lado de dentro de um corredor, por trás do palco.
‘Alice! Quanto tempo!’ – e Kevin veio e me deu um
abraço forte
‘Sim, muito! Nossa, quase não consigo falar com
vocês! TG não deixa ninguém passar! Tem uns fãs ensandecidos ali embaixo, se
digladiando, quase apanhei!’ – sorri tímida a ele
‘TG não deixa mesmo’ – ele riu – ‘mas por que não
ligou a Louis?’
‘Porque não tenho telefone, mas ia ter que sair se
TG não deixasse...’
‘Entendi. Vem, vamos lá pra dentro. Louis não
entrou ainda no camarim, deve estar por aí conversando com alguém’ – falou
enquanto me levava pelo corredor
‘Ah, tudo bem. Eu só queria falar oi na verdade,
nem vou tomar muito o tempo de vocês’
‘Que é isso! Os caras vão gostar de te ver, vem
entre’
A sala onde estavam era pequena, tinha uns sofás e
umas poltronas, cartazes pendurados na parede, mas bem iluminado. Quando
entrei, dei de cara com Doug sentado em uma poltrona.
‘Ei, Alice! Quanto tempo! O que faz aqui em Vegas?’
– e fui em sua direção lhe cumprimentar, ele me deu um abraço e um beijo forte
no rosto
‘Estou de férias, com os meninos. Meus amigos,
lembra deles?’
‘Sim, claro’
Pete veio em minha direção, me cumprimentando
também.
‘Ué, e Matthew? Não estava gravando com ele?’ –
Pete me perguntou depois de um abraço bem apertado
‘Ah é, então, eu e Matthew...nos separamos...’ - um
silêncio se fez no ar, percebi que se olharam entre eles
‘Como assim?’ – me perguntou Kevin
‘Ah, enfim. Não deu certo...’ – e me sentia
envergonhada, fazendo com que eles se olhassem novamente
‘É, Matthew é um cara difícil mesmo...’ – disse
Pete se sentando no sofá
‘Pois é, não dá muito valor a nada...’ – disse
Kevin, se sentando também perto de Pete, me olhando, parecendo saber o que
tinha acontecido
‘Mas você tá bem?’ – me perguntou Doug
‘Ah, sim, na medida do possível. Ai, os meninos
resolveram viajar e não quiseram me deixar em casa sozinha...’
‘Isso mesmo, tá certo! Tem mais é que aproveitar a
vida. As mulheres têm que entender que marmanjo que não valoriza o que tem, não
merece ficar com elas’ – disse Kevin que continuava a me olhar, sua frase me
cortou por dentro, como se soubesse exatamente o que Matthew tinha feito
‘Vem, senta aqui’ – disse Pete, me estendendo o
braço e se afastando de Kevin, me fazendo sentar entre os dois
‘Tá faltando um de vocês, cadê Perry?’ – lhes
perguntei, mudando de assunto
‘Deve estar enroscado com alguma garota por aí’ –
sorriu Doug pra mim
‘E de resto, como andam as coisas?’ – me perguntou
Pete segurando em minhas mãos
‘Ah, tô fazendo faculdade’
‘Opa, que bom! E já sabe o que quer?’
‘Jornalismo, termino no próximo ano’
‘Mais inteligente que todos nós juntos’ – riu Doug
‘Alice sempre foi esperta, me lembro no estúdio,
aprendeu rapidinho’ – disse Pete, se levantando e pegando uma cerveja em uma
geladeira pequena no canto da sala, me oferecendo, mas sem que eu aceitasse
‘Nada, penei muito. Tinha que anotar tudo mil vezes
pra não esquecer, até a posição de como montavam as coisas’ – e sorri
‘Pois é, e Kevin achou que você não daria conta’ –
riu Pete enquanto falava
‘Ah, quer dizer que não confiava em mim?’ – falei a
Kevin que também tinha ido buscar uma cerveja e se sentava ao meu lado
novamente
‘Não, não é nada disso! Você era nova, recém
chegada de um curso!’ – ele me falou meio sem graça
‘Nah, também não confiaria em mim se fosse vocês’ –
lhe disse rindo, me sentindo mais a vontade
‘E tá produzindo alguém?’
‘Não, por enquanto parei com essa vida. O foco é terminar
a faculdade, gosto desse negócio de aprender. Mas se surgir outra oportunidade,
quem sabe?’
‘Teria o prazer de trabalhar com você novamente’ –
disse Kevin rindo a mim
Nisso, a porta se abriu e Louis entrou por ela sem
me ver. Seus cabelos ainda estavam curtos, mas não mais raspados como da última
vez que o vi, um pouco arrepiados, sua camiseta molhada, parecia mais magro
‘Ah, olha quem chegou!’ – disse Kevin, enquanto
Louis pegava uma toalha em cima de uma mesa, de costas pra gente
‘Puta merda, um mala me parou ali no corredor, me
puxando e me falando um monte de baboseiras e eu louco por um banheiro e...’ –
Louis se virou enquanto falava, dando de cara comigo e eu sorria ao vê-lo –
‘Alice?’ – Louis me olhou surpreso, ainda com a toalha na mão
‘Vim visitar vocês, ver vocês tocarem na verdade,
já que estou aqui com os meninos, aproveitei...’ – e me levantei, lhe dando um
beijo no rosto e um abraço rápido, seu corpo quente
‘E por que não vieram?’ – me perguntou Pete,
enquanto eu voltava a sentar entre ele e Kevin
‘Porque estão alucinados desde que chegamos aqui.
Torram o resto do nosso dinheiro nos cassinos, Cacá quase casou com uma
desconhecida e o Elvis era o padre, essas coisas...’ – e ri
‘Ah, Vegas...’ – disse Doug rindo
‘Aí eu queria vir ao show, eles queriam torrar o
dinheiro no cassino, em festa, essas coisas, aí vim sozinha...’
‘E como conseguiu chegar até aqui?’ – Louis ainda
estava de pé em minha frente
‘Hum, tenho meus contatos!’ – e ri, fazendo com que
ele sorrisse mais pra mim – ‘Mentira, reconheci TG enquanto ele segurava umas
garotas ensandecidas querendo ver vocês, ai conversei com ele e depois de muito
tempo ele me trouxe, quero dizer, deixou eu entrar e Kevin me trouxe’
‘Podia ter me ligado’
‘Sim, mas não tinha como. Aí ia ter que sair e
ligar pra você, enfim, arrisquei...’
‘E vocês vão pra mais algum lugar ou vão pra casa
depois daqui?’ – perguntou Doug
‘Olha, devido a falta de grana e dos meninos terem
torrado o que nos restou, bem provável que vamos pra casa’ – eles riram –
‘vocês não estão entendendo, eles não ganharam uma moeda ainda’
‘Puta merda’ – disse Doug
‘Mas tá bom, tô cansada também, descemos de Seattle
de carro pela costa e depois viemos até aqui, tá na hora de voltar’
‘Desceram de carro?’ – perguntou Kevin
‘Sim, um mês viajando, parando em um monte de
lugar’
‘Wow, sem destino’ – Kevin continuou falando
‘Sim, praticamente’
‘Lex veio?’ – me perguntou Louis, já sentado no
sofá na nossa frente
‘Não. Tô eu, John, Cacá e Fábio’
‘Hum, que bom...’ – Louis me olhava dentro dos
olhos, me desconcertando
‘Só você de mulher?’ – me perguntou Kevin
‘Sim. Mas não sou mulher, né? Sou um dos caras, pra
eles. São como se fossem meus irmãos, não deixam ninguém se aproximar de mim,
uns Pitbulls, não se iluda’ – e eles riram
‘Ah, mas pegam leve com você, vai? É uma garota...’
– disse Doug
‘Nada, não tô te falando que sou um dos caras?
Sempre fui, desde que mudei pra Seattle só tenho eles de amigos. Esses putos
inconsequentes, nem pra arrumar umas
namoradas pra me fazer companhia! São uns canalhas! Só Lex tomou jeito e casou’
– e eles riram de novo
‘Ah, legal, eu não tinha uma garota que era um dos
caras na sua idade’ – disse Kevin me fazendo rir
‘Ainda bem né? Por que não sei o que é ser menina
ultimamente. Peço a eles pra pararem numa farmácia porque preciso de absorvente
e eles já viram reclamando “Mas de novo?
Todo dia? Fica o mês inteiro assim?”’ – e eles continuavam rindo – ‘no meio
da viagem sumiu o meu aparelho de depilar a perna porque eles simplesmente
esqueceram de comprar aparelho de barbear! E creme? Some! Usam mais que eu! TPM
eu nem cogito em ter, se eu respondo atravessado qualquer coisa por qualquer
motivo, sempre vem as mesmas respostas “fica
o mês inteiro de TPM também?”. Mimimi de mulher? Não tenho! Vocês homens
são muito insensíveis! Acha que gosto ser um dos caras?’ – eles riam e Louis
continuava me observando, sorrindo contido
‘Ah, não fala assim, eu sou um cara sensível’ –
disse Pete, fazendo todo mundo rir
‘Ah, que bom que um de vocês é! Porque aqueles lá,
tão longe de serem sensíveis. Xixi de porta aberta, toalhas e roupas jogadas
por todos os lados e outras coisas piores, já se incorporaram no meu cotidiano!
Homem pelado, não é mais novidade, tá? Não faz diferença na minha vida!’ – eles
continuavam rindo e eu me sentia feliz
‘Pensa que é só uma viagem’ – disse Kevin
‘Ah, antes fosse! Fala isso pro Cacá, que só é lady
quando passa creme hidratante’ – e eles continuavam rindo
‘Você mora com esse Cacá?’ – me perguntou Kevin
‘Sim, no casamento mais perfeito do mundo. Cinco
anos já!’
‘Casamento? Mas...’ – disse Doug
‘Não! Casamento porque a gente divide as contas e
as tarefas de casa direitinho e não rola sexo em hipótese nenhuma’
‘Ah, entendi’ – disse Doug enquanto eles riam, como
sentia falta daqueles momentos
‘Alice, não tá com fome? Nós vamos sair pra comer,
não quer vir com a gente?’ – Kevin foi se levantando
‘Opa, não, já vou embora. Não quero atrapalhar’ – e
me levantei também
‘Louis te leva então’ – continuou dizendo Kevin,
fazendo Louis ficar meio desconcertado
‘Não, imagina. Eu pego um táxi aqui e logo estou no
hotel. Devem estar cansados, Louis também. Realmente não quero atrapalhar’ – e
peguei minha bolsa
‘Nada. Louis insiste, né Louis?’ – e Kevin passou
por ele, lhe dando um tapa nas costas, fazendo Louis ficar mais constrangido
‘Sim, claro. Eu só vou ao banheiro e já volto. Me
espera?’
‘Sim, claro’
Louis entrou no banheiro e os meninos se despediram
de mim, saindo logo em seguida. Enquanto Louis não saia, olhava os cartazes na
parede, matando o tempo. Fazia um ano que não o via, mas já se passavam 4 anos
da última vez que ficamos a sós. Um frio na barriga me percorria.
‘Vamos?’ – ele falou pra mim me tirando do transe e
eu lhe sorri, lhe acenando com a cabeça
Louis se virou pra pegar suas coisas e se
encaminhou a porta, me fazendo não resistir ao lhe ver de costas. Peguei em seu
braço e o virei de frente pra mim, lhe dando um abraço apertado.
‘Não pude nem te dar um abraço’ – e encostei meu
corpo no de Louis, já mais seco, mas igualmente quente
‘Pois é, eu demorei a chegar e...’
‘Eu senti sua falta’ – disse lhe olhando nos olhos,
minhas mãos já passando por seus cabelos e lhe dando um beijo no rosto, como se
fosse há quatro anos atrás
‘Eu também’ – ele disse me olhando nos olhos, mesmo
olhar de quem lia meus pensamentos. A cada ano que passava, parecia cada vez
mais bonito
‘Está com fome?’ – lhe perguntei
‘Um pouco e você?’
‘Um pouco também’
‘Quer comer alguma coisa? Aí te levo depois?’
‘Sim! Vamos? Assim a gente bota a fofoca em dia’ –
e segurei em suas mãos, entrelaçando meus dedos nos dele, como sempre fiz
Paramos então pra comer e fui lhe contado coisas
básicas de como estava a graduação, que terminaria em um ano e ele me perguntou
de surpresa, enquanto já comíamos
‘E a produção?’
‘Não quero mais, Louis. Estou traumatizada. Quem
sabe um dia, né?’
‘É, quem sabe’
‘Você me deu um conselho que eu poderia ter
escolhas se fizesse burradas, lembra? Então, resolvi escolher seguir a
graduação até o final’
‘Bom, vai te ajudar?’
‘Vai’
Ainda saímos caminhando e conversando mais um
pouco. Eu não queria ir embora e mesmo depois de tanto tempo, aquela caminhada
com Louis me fazia recordar de quando saíamos pra comer alguma coisa juntos
antes de voltarmos e trabalharmos até tarde no estúdio.
‘Quer ir já ou quer fazer algo?’ – Louis me
perguntou, com as mãos no bolso da calça, enquanto caminhávamos
‘Não sei. Queria beber um pouco. Me deu vontade,
sabe?’
‘Alice...’ – ele me falou preocupado
‘Não, não assim! Só de ficar alegre e dançar,
sabe?’
‘Sei’ – ele sorriu pra mim
‘Vamos, qualquer lugar? Eu pago!’
‘Não precisa’ – ele riu
‘Aí você cuida de mim e não deixa eu fazer
besteira’
‘Alice, olha...eu...’
‘Ah, vai me dizer que tá velho? Que tem artrose e
que não pode ir, isso?’
‘Não, não vou’ – ele ria e eu segurei em seus
braços, colocando eles atrás do meu pescoço, me pendurando no seu
‘Então? Sim?’
‘Ok’ – ele ainda falou pra mim, sorrindo com os
olhos
‘Por isso que eu amo ter você em minha vida!’ – e
lhe puxei, caminhando pela rua
Entrei com ele em um bar qualquer, uma música alta,
um monte de gente. Paramos no balcão e eu pedi tequila. Na segunda eu já estava
tonta, tantos anos não punha uma gota de álcool na boca. E sei lá mais quantas
bebi.
Puxei Louis pra pista de dança, sem mais nenhum
pudor. Me sentia leve, viva, como há tempos não sabia como era e ia nos
misturando com as pessoas, sem pensar em nada.
Seus olhos se encontravam com os meus e eu me
sentia toda mole. Sem saber se era por conta da bebida ou da sua presença. Cacá
tinha razão, Louis era realmente um cara bonito, um perfeito cavalheiro.
Já bêbada, me aproximava dele, colocando suas mãos
na minha cintura e estendendo meus braços sobre seu pescoço, enquanto
dançávamos. Podia sentir o cheiro do seu perfume, misturando com seu cheiro, me
fazendo ter desejo de beijá-lo. Naquele momento me esqueci que era meu amigo. Era
um homem, lindo, atraente, como sempre foi.
Quando a zonzeira começou a passar lhe pedi uma
garrafa d’água e quando ele me trouxe, lhe puxei pra fora do bar, já não
aguentando mais a música alta.
Um vento gelado batia e eu tremi de frio, fazendo
com que Louis tirasse sua camisa amarrada na cintura e me vestisse, me
abraçando pra esquentar, fazendo com que eu encostasse minha cabeça em seu
peito e ouvisse seu coração bater forte
‘Está zonza ainda?’ – ele me perguntou, a voz grave
próxima dos meus ouvidos
‘Não, pinguei todo álcool lá dentro’ – lhe disse
mesmo sentindo ainda um leve torpor, uma quase falta de pudor
‘Vou te levar então ao seu hotel’ – ele me disse,
me fazendo virar e lhe olhar nos olhos, me encolhendo novamente em seus braços
‘Posso ficar com você essa noite?’ – lhe disse sem
muito pensar, querendo ficar em seus braços por mais tempo
‘Pode, mas...e seus amigos?’ – ele me perguntou,
meio surpreso
‘Sabem que estou com você. Não sou mais tão
irresponsável assim’
‘Nunca achei que fosse. Vem te levo pro meu hotel’
– e segurou em minha mão"
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