Há exatos 16 anos atrás eu criei esse blog com o nome de um dos meus discos favoritos e o nome que eu usava em um forum que eu era muito ativa no começo dos anos 2000. Na época nada fazia tanto sentido quanto o Euphoria Morning e o forum onde eu fiz tantos amigos. Chris Cornell tinha cruzado nossos caminhos, mesmo com 'millions miles between us'.
Hoje esses mesmos amigos que participaram tão ativamente de minha vida pós adolescente devem estar se sentindo tão devastados quanto eu. Sem chão, sem acreditar que o CC (como nós o chamávamos carinhosamente), simplesmente se foi.
A primeira vez que ouvi Soundgarden tinha 12 anos e instantaneamente fiquei hipnotizada por aquela poderosa voz e por aquele homem de cabelos tão compridos. Eu nunca tinha visto um homem de cabelos tão compridos, sério. E aos 14, ganhei o Superunknown em um aniversário, que simplesmente não saia de dentro do discman por nada nesse mundo. Eu sabia as músicas de cor, podia contar quantos tempos tinha cada batida da bateria. Quantas vezes Chris parecia respirar entre suas frases de difícil compreensão.
Eu era tão enlouquecida pelo Soundgarden que comecei a aprender inglês por conta própria pra entender o que aquele homem queria dizer em seus agudos perfeitos e sua música densa. Era muito mais do que a minha cabeça adolescente conseguia compreender.
Os anos foram passando, o Soundgarden findou e eu continuei acompanhando a carreira do Chris, porque era fã dele. Era fã de tudo que ele fazia e significava pra mim naquela época tão conturbada da minha vida. Era um amor incondicional. E tudo isso culminou quando ele lançou o Euphoria Morning.
Euphoria Morning é pra mim o álbum mais lindo escrito pelo Chris. Arrisco a dizer que um dos álbuns mais lindos escritos no mundo. Suas letras se tornaram mais claras, seu lamento tão triste e tão incrivelmente delicado daqueles de chorar. 'Gotta love those sad songs, man', um dia disse a um desses meus amigos do forum. E era impossível não amar.
Pacientemente vi o Chris se livrar da carreira solo, se juntar ao Audioslave, largar do Audioslave e voltar pra carreira solo no final de 2006, em um bootleg que rodava na rede só com versões acústicas de suas músicas mais conhecidas e uns covers também acústicos que eu escutava incessantemente. Naquele final de ano de 2006 até o meio do ano de 2007, minha vida tinha se tornado um inferno de mentiras e traições que eu não gosto de lembrar.
Era tanta dor que eu sentia por tudo o que eu passava que, não sei se por providência divina ou por coincidência da vida, um dia recebi a notícia que em dezembro daquele ano Chris Cornell viria a São Paulo para uma única apresentação. Eu tinha então 27 anos quando vi um dos meus grandes ídolos pela primeira vez. 15 anos eu tinha esperado aquele momento. E com 12 anos me senti quando aquele homem de quase um metro e noventa e olhos verdes tão claros entrou no palco. A única diferença eram que seus cabelos não eram mais os cabelos mais compridos que já tinha visto em um homem.
Vi o Chris exatas 4 vezes ao vivo. Muito pouco perto do amor incondicional que eu tinha pela sua voz, pelas suas letras e por sua figura tão carismática, mas que foram intensas e tão inesquecíveis que provável que se o tempo me pregar a peça de fazer com que eu esqueça tudo o que vivi, essas vão ser uma das memórias mais difíceis de se apagar.
Não teve uma vez que não o vi que minhas lágrimas não desceram pelo rosto. Que ele não cantou Black Hole Sun e eu não me explodi em pedaços pequenos incapazes de se juntar depois. Que não saí com uma sensação daquelas agridoces, que você quer chorar e sorrir ao mesmo tempo. Mas nenhuma delas foi tão especial quanto ao show do Temple of the Dog em LA, que também não sei se por providência divina ou por coincidência do destino, tudo deu certo pra que eu participasse desse momento. Foi a experiência mais única e mais surreal que eu tive até hoje. Foi mágico, foi sublime.
Vi Chris cantar Stargazer, River of Deceit, Seasons e Reach Down, dentre todas as outras foi simplesmente um sonho se realizando em poucas horas. Daqueles dias que você olha pra si mesmo, lembra de tudo o que passou até ali e pensa: "Eu consegui, eu fiz tudo isso ser possível. Todas as minhas escolhas me trouxeram até aqui e eu me sinto genuinamente feliz". Foi difícil dormir aquela noite no hotel. Por horas eu repetia os vídeos que ia acabar perdendo por ironia do destino.
Em dezembro de 2016 foi a última vez que vi o Chris. Os anos tinham se passado, mas a sensação de amar algo tão inexplicavelmente não. Quando ele quase terminava o show, tocando Sunshower, as lágrimas mais uma vezes correram sem esforço. Saí de lá flutuando, pisando num chão que não existia, cheia de memórias de minha curta vida. As boas e as ruins.
Hoje, às 8:30 da manhã, eu começo a receber mensagens no celular. 'Você está bem? Você já está sabendo o que aconteceu? Isso é verdade?'. A primeira coisa que fiz foi entrar no Twitter e ver a avalanche de notícias sobre sua morte.
Eu achei que esse dia nunca ia existir. Que minha dor nunca ia ser insuportável e que quando isso acontecesse eu estaria velha e já não me lembraria mais como era ter 15 anos novamente. Eu sentia uma sensação de querer me enrolar em posição fetal e gritar até as minhas forças desaparecerem por completo.
Eu ainda não consigo acreditar. É como se alguém tivesse me contato uma mentira que virou verdade. Como se essa realidade não existisse e eu não soubesse onde estou ou porque estou. É peça pregada do destino, é um mundo paralelo que nunca existiu.
Eu explodi em lágrimas e não eram de felicidade como da última vez. Quem me conhece sabe que perdi um pedaço de mim hoje, que o mundo perdeu um pouco da graça, que lá no fundo vou sentir essa dor de uma lembrança, pra sempre.
Logo em seguida, minha mãe veio até meu quarto, me abraçou forte e chorando junto comigo disse "eu sei o quanto ele era importante pra você, talvez uma das pessoas mais importantes da sua vida".
Sabe aquelas pessoas que mudam tudo em você, sem ao menos saberem que fizeram isso? Chris Cornell foi uma delas. Eu vou sentir sua falta, daqui até a eternidade.
"Save my love for the lasting one, Sweet Euphoria"
Hoje esses mesmos amigos que participaram tão ativamente de minha vida pós adolescente devem estar se sentindo tão devastados quanto eu. Sem chão, sem acreditar que o CC (como nós o chamávamos carinhosamente), simplesmente se foi.
A primeira vez que ouvi Soundgarden tinha 12 anos e instantaneamente fiquei hipnotizada por aquela poderosa voz e por aquele homem de cabelos tão compridos. Eu nunca tinha visto um homem de cabelos tão compridos, sério. E aos 14, ganhei o Superunknown em um aniversário, que simplesmente não saia de dentro do discman por nada nesse mundo. Eu sabia as músicas de cor, podia contar quantos tempos tinha cada batida da bateria. Quantas vezes Chris parecia respirar entre suas frases de difícil compreensão.
Eu era tão enlouquecida pelo Soundgarden que comecei a aprender inglês por conta própria pra entender o que aquele homem queria dizer em seus agudos perfeitos e sua música densa. Era muito mais do que a minha cabeça adolescente conseguia compreender.
Os anos foram passando, o Soundgarden findou e eu continuei acompanhando a carreira do Chris, porque era fã dele. Era fã de tudo que ele fazia e significava pra mim naquela época tão conturbada da minha vida. Era um amor incondicional. E tudo isso culminou quando ele lançou o Euphoria Morning.
Euphoria Morning é pra mim o álbum mais lindo escrito pelo Chris. Arrisco a dizer que um dos álbuns mais lindos escritos no mundo. Suas letras se tornaram mais claras, seu lamento tão triste e tão incrivelmente delicado daqueles de chorar. 'Gotta love those sad songs, man', um dia disse a um desses meus amigos do forum. E era impossível não amar.
Pacientemente vi o Chris se livrar da carreira solo, se juntar ao Audioslave, largar do Audioslave e voltar pra carreira solo no final de 2006, em um bootleg que rodava na rede só com versões acústicas de suas músicas mais conhecidas e uns covers também acústicos que eu escutava incessantemente. Naquele final de ano de 2006 até o meio do ano de 2007, minha vida tinha se tornado um inferno de mentiras e traições que eu não gosto de lembrar.
Era tanta dor que eu sentia por tudo o que eu passava que, não sei se por providência divina ou por coincidência da vida, um dia recebi a notícia que em dezembro daquele ano Chris Cornell viria a São Paulo para uma única apresentação. Eu tinha então 27 anos quando vi um dos meus grandes ídolos pela primeira vez. 15 anos eu tinha esperado aquele momento. E com 12 anos me senti quando aquele homem de quase um metro e noventa e olhos verdes tão claros entrou no palco. A única diferença eram que seus cabelos não eram mais os cabelos mais compridos que já tinha visto em um homem.
Vi o Chris exatas 4 vezes ao vivo. Muito pouco perto do amor incondicional que eu tinha pela sua voz, pelas suas letras e por sua figura tão carismática, mas que foram intensas e tão inesquecíveis que provável que se o tempo me pregar a peça de fazer com que eu esqueça tudo o que vivi, essas vão ser uma das memórias mais difíceis de se apagar.
Não teve uma vez que não o vi que minhas lágrimas não desceram pelo rosto. Que ele não cantou Black Hole Sun e eu não me explodi em pedaços pequenos incapazes de se juntar depois. Que não saí com uma sensação daquelas agridoces, que você quer chorar e sorrir ao mesmo tempo. Mas nenhuma delas foi tão especial quanto ao show do Temple of the Dog em LA, que também não sei se por providência divina ou por coincidência do destino, tudo deu certo pra que eu participasse desse momento. Foi a experiência mais única e mais surreal que eu tive até hoje. Foi mágico, foi sublime.
Vi Chris cantar Stargazer, River of Deceit, Seasons e Reach Down, dentre todas as outras foi simplesmente um sonho se realizando em poucas horas. Daqueles dias que você olha pra si mesmo, lembra de tudo o que passou até ali e pensa: "Eu consegui, eu fiz tudo isso ser possível. Todas as minhas escolhas me trouxeram até aqui e eu me sinto genuinamente feliz". Foi difícil dormir aquela noite no hotel. Por horas eu repetia os vídeos que ia acabar perdendo por ironia do destino.
Em dezembro de 2016 foi a última vez que vi o Chris. Os anos tinham se passado, mas a sensação de amar algo tão inexplicavelmente não. Quando ele quase terminava o show, tocando Sunshower, as lágrimas mais uma vezes correram sem esforço. Saí de lá flutuando, pisando num chão que não existia, cheia de memórias de minha curta vida. As boas e as ruins.
Hoje, às 8:30 da manhã, eu começo a receber mensagens no celular. 'Você está bem? Você já está sabendo o que aconteceu? Isso é verdade?'. A primeira coisa que fiz foi entrar no Twitter e ver a avalanche de notícias sobre sua morte.
Eu achei que esse dia nunca ia existir. Que minha dor nunca ia ser insuportável e que quando isso acontecesse eu estaria velha e já não me lembraria mais como era ter 15 anos novamente. Eu sentia uma sensação de querer me enrolar em posição fetal e gritar até as minhas forças desaparecerem por completo.
Eu ainda não consigo acreditar. É como se alguém tivesse me contato uma mentira que virou verdade. Como se essa realidade não existisse e eu não soubesse onde estou ou porque estou. É peça pregada do destino, é um mundo paralelo que nunca existiu.
Eu explodi em lágrimas e não eram de felicidade como da última vez. Quem me conhece sabe que perdi um pedaço de mim hoje, que o mundo perdeu um pouco da graça, que lá no fundo vou sentir essa dor de uma lembrança, pra sempre.
Logo em seguida, minha mãe veio até meu quarto, me abraçou forte e chorando junto comigo disse "eu sei o quanto ele era importante pra você, talvez uma das pessoas mais importantes da sua vida".
Sabe aquelas pessoas que mudam tudo em você, sem ao menos saberem que fizeram isso? Chris Cornell foi uma delas. Eu vou sentir sua falta, daqui até a eternidade.
"Save my love for the lasting one, Sweet Euphoria"
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