"Vim no carro hoje, pensando em você. Pensando em sua pele de cetim. Sua
expressão quando sorri. O jeito que fecha os olhos enquanto me beija. Como me
olha enquanto eu fecho os olhos pra dormir.
O tempo pára. Como se não sentir ele passar fosse normal. A hora eterna.
E não importa quanto tempo ficamos sem nos ver. Não importa nada. A distância
não afeta. A sensação é sempre a mesma.
Lembrar das conversas malucas. Das discussões inteligentes,
politicamente incorretas e corretas. Das vontades. Dos sonhos. Das afinidades.
Dos impulsos.
Ouvia "Billie Jean" enquanto fechava os olhos,
lembrando do desejo. Desejo que aumenta e consome. Desejo de estar, de ser, de saber esperar.
"Some boy you are, to wear my color red, wear it very proudly, wear
it like a lady"
E de pensar nas mãos macias e no beijo molhado, me perco em sensações
que não consigo definir. O cheiro inconfudível.
O que é, porque é e como é, eu não sei. E pra ser sincera, eu não quero
saber.
A diversão é mais intensa e as noites mais longas quando as passo em sua
presença. O mundo não tem nome, os lugares não têm importância e as sensações
simplesmente são. Sua ausência não me constrange, não me esgota, não me
alucina. A vida continua bela, as pessoas continuam únicas e me sinto exatamente
a mesma.
Não tem obrigação. Não tem boa dor. Não tem um amargo adocicado.
Tem a música alta, o suor escorrendo pelo corpo, a pele de cetim
enroscada na minha, quente, sua. Deixando um arrepio que espalha pela nuca e
termina na ponta dos meus dedos. O aperto na cintura, o nariz deslizando pelo
pescoço.
Tem cheiro de uva doce e sem caroço. Tem gosto de jabuticaba madura.
Mata a sede como água gelada.
Tem tempo pra acontecer. Tem coincidência pra ajudar. Tem lembrança
gravada na memória."
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