"Com dificuldade, sentei na cama e olhei para os
meus pés, tirando o curativo que Louis tinha feito. Uns pontos tinham estourado
e os cortes profundos nos dois pés queriam se abrir mais do que já estavam.
Mesmo desse jeito, não aguentava mais ficar
trancada ali no quarto e resolvi descer as escadas pra tomar um copo d’água na
cozinha. Demorei uns minutos até descer todos os degraus e andei com bastante
dificuldade até a cozinha.
Fui até a pia e achei um copo dentro dela, o qual
enchi com água e bebi logo em seguida. Pela janela via um dia nublado e
chuvoso. As gotas caiam lentas pela grama e um vento gelado teimava entrar por
uma fresta aberta da janela.
Fiquei uns minutos olhando lá fora, sem pensar em
nada. Mal podia ficar em pé. Pela primeira vez em meses me sentia realmente
fraca. De repente, ouvi a porta bater, me tirando do transe. Me virei e Louis
entrava pela cozinha com umas sacolas na mão. Quando me viu, se assustou.
‘O que faz aqui? Não pode andar...’ – ele vinha
caminhando em minha direção após deixar as sacolas sobre a mesa
‘Eu estava cansada de ficar lá em cima, deitada e
vim beber um pouco d’água. Tive um pesadelo, fiquei assustada’
‘Quer ficar um pouco aqui em baixo? Eu te levo pra
sala’
‘Pode ser. Você fica comigo, me sinto tão estranha’
‘Fico sim. Eu demorei um pouco porque precisei
passar na farmácia e ir até o mercado’
‘Tudo bem’
‘Põe seus braços no meu pescoço’
Me apoiei em Louis e quando deitei em seu peito
enquanto ele me carregava até a sala, senti seu perfume, me fazendo lembrar do
primeiro dia em que conversamos. Louis me colocou em cima do sofá e ajeitou
umas almofadas pra eu deitar.
‘Está confortável?’ – ele passou sua mão em minha
cabeça
‘Sim, obrigada. Mas nem precisava, eu vinha
devagar’
‘Não, vou limpar seus pés de novo e fazer outro
curativo’
‘Estou bem, não precisa se incomodar’
‘Vou só ali na cozinha guardar as coisas e já
volto, não demoro’ – ele falou enquanto já entrava pela cozinha
Fechei os olhos por um momento e meu corpo parecia
flutuar e eu respirava lento, como se quisesse poupar todas as energias que
ainda me restavam. De repente senti algo gelado nos pés, me fazendo despertar.
‘Desculpe, não queria te acordar’
‘Tudo bem, não estava dormindo. Só estou me
sentindo fraca’
‘Vou terminar de fazer seu curativo e vou preparar
algo pra você comer’
‘Eu não tenho fome, só estou me sentindo esquisita’
‘Precisa e vai comer. Não tem nada no estomago
praticamente, desde que vomitou ontem. Pronto, terminei’
Louis saiu e entrou na cozinha novamente. Encostada
no sofá podia vê-lo se movimentar. Eu me sentia bem perto dele. Ele me olhava
de um jeito diferente do que todas as outras pessoas as quais conhecia e me
fazia sentir especial. Ele cuidava de mim e me protegia, sempre disposto, em
qualquer momento ou pelo tempo que fosse necessário.
Eu sentia que o queria sempre por perto. E me
sentia culpada por ter me afastado tanto durante todos aqueles últimos meses. E
já se faziam sete meses da última vez que o tinha visto em Los Angeles. Mas naquele
momento me sentia em paz em estar ali, com ele.
Ele parecia mais magro, seus cabelos diferentes,
mais curtos que da última vez, as franjas não lhe caiam mais sobre os olhos. Louis
voltou depois de um tempo e sentou ao meu lado com um prato de sopa.
‘Olha, não sei cozinhar muito bem, por isso comprei
várias coisas prontas pra te dar’
‘Imagina Louis, eu nem queria te dar tanto
trabalho’
‘Não está. Vem, senta aqui perto, vou te ajudar a
comer’ – Louis assoprava a colher e me dava a comida na boca
‘Me sinto uma criança com você me dando na boca’
‘Não acostuma não. Só estou fazendo isso porque
você não está boa’ – ele sorriu e olhou pra mim
Louis me forçou a comer quase o prato todo de sopa,
quando não aguentava mais, ele se viu quase satisfeito de me ver de estomago cheio.
‘Vou comer também. Tem certeza que não quer mais?’
‘Tenho, fazia tempo que não comia assim’
‘Pois aqui em casa vai comer, nem que eu tenha que
te amarrar e dar na boca todo dia’
Louis voltou com outro prato de sopa e se sentou ao
meu lado, enquanto comia, eu deitei próximo a ele. Por uns minutos ficamos em
silêncio.
‘Quer um copo de água?’ – ele perguntou enquanto
comia
‘Não, estou bem’
Louis colocou o prato em cima da mesa e eu me
deitei sobre suas pernas, me sentindo confortável e menos fraca. Louis olhava
pra mim, enquanto passava suas mãos pelos meus cabelos e testa.
‘Se sente melhor?’
‘Uhum, um pouco’
‘Quer mais alguma coisa?’
‘Não. Obrigada. E você como está?’
‘Eu? Bem. Minha mãe está em tratamento ainda, mas
está bem melhor depois da cirurgia e eu tenho descansado um pouco da ultima
tour. Tenho escrito umas musicas’
‘E sua esposa?’
‘Separamos mesmo, não há vejo há meses’
‘E, tudo bem? Está namorando com alguém novo?’
‘Não. Estou bem. Vou ficar assim por um tempo’ –
Louis parecia não querer tocar nesse assunto
‘É, faz bem. Olha o que a paixão me fez’
‘Isso passa, você vai ver...’
Ainda passamos um pouco conversando sobre
amenidades mas me senti cansada e Louis me levou pra deitar de novo.
‘Dorme um pouco enquanto arrumo algumas coisas aqui
em casa’ – ele falou pra mim enquanto eu já quase dormia
‘Ok. Louis?’
‘O que?’
‘Eu...’ – e tudo se apagou"
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