Era uma quinta feira de chuva às cinco da tarde quando sai
do serviço com um só objetivo, parar em frente ao hotel e esperar. Pra quem
tinha esperado por 24 anos, algumas horas ali em frente, sentada no
cimento frio, segurando um livro, não iriam me esmorecer. Nem o frio, nem a
chuva e nem a hostilidade de quem se acha proprietário de alguma coisa.
Vamos recaptular? Quando o ano de 2015 começou, o intuito
era fazer com que esse ano fosse inteiro cheio de surpresas. Mas não daquelas que a gente fica esperando acontecer, daquelas que a gente vai atrás e vê acontecer. Daquelas satisfações em ser e fazer a diferença. Não só na vida dos outros mas na nossa própria vida.
Me desculpem os politicamente corretos, mas era o momento de olhar pra mim mesma. Fechar velhas feridas, curar outras recentes, aceitar muitos defeitos e descobrir que há qualidades. Nada disso eu trocaria por nada nesse mundo. E todo momento que vivi foi meu e de mais ninguém.
Ser egoísta é uma coisa, mas se respeitar é outra completamente diferente. E esse ano, acima de todos os outros, de todos os 35 anos da minha existência, eu finalmente me respeitei. Respeitei o fato de que amadureci na idade e na mente, que posso o que quero e que consigo se isso for permitido a mim algum sorriso de felicidade.
Digressões a parte o objetivo era estar ali e esperar. Mas esperar o que? Esperar algo tão importante na minha vida aparecer e dizer oi. Pra qualquer pessoa isso pode parecer algo tão banal e fora da realidade, mas o que importa o que as pessoas pensam? Importava pra mim entregar uma carta de agradecimento e um aperto de mão.
A carta de agradecimento ficou guardada, mas me senti adolescente de novo quando Mike McCready despontou pela calçada e gentilmente tirou fotos e autografou livros e camisetas, como o meu. As palmas das mãos suavam, as pernas tremiam e o estômago revirava em cólicas como a de uma criança que acaba de descer do escorregador pela primeira vez. Ainda esperei por uma hora e meia, mas infelizmente o destino não quis que fosse dessa vez.
Ver o Pearl Jam é sempre uma renovação em minha vida. Desde o primeiro show em 2005, passando pela dobradinha de 2011, 2013, 2014 com o Eddie Vedder em carreira solo e agora em 2015, a ansiedade é a mesma, como se fosse a primeira vez. E ir sem expectativas foi o mais importante, porque expectativas frustam e eu sabia que sentiria tudo menos frustração.
O objetivo era ficar perto, o mais perto que pudesse. Era o momento de todo o ano de mudanças que eu esperava celebrar e eu contei os dias insistentemente e mentalmente, desde quando comprei o ingresso em maio. No fundo, bem lá no fundo, o que eu tinha planejado, eu sabia que ia conseguir. Foi mais que uma celebração, foi o renascimento de alguém que estava preso dentro de mim desde o dia que eu me trancafiei em minha própria mente. Eu era só minha e de mais ninguém.
Me libertei finalmente. De medos, de frustrações, de inseguranças, de banalidades. Colocar o grito preso na garganta pra que o mundo ouvisse era somente uma consequência. E mais do que o grito, as lágrimas que caiam espontaneamente sem precisar de nenhum esforço.
E o mundo girou por 3 horas e vinte. Incontáveis foram as vezes que o sorriso não saia do rosto ou que a garganta explodia em soluço, sem vergonha nenhuma, que o arrepio passava pelo corpo inteiro e que o coração pulava na boca, tamanha a felicidade.
Eu sai satisfeita. Satisfeita por celebrar 24 anos de amor incondicional, por estar viva e finalmente feliz comigo mesmo. Por não desistir e não esquecer dos meus sonhos, sejam eles pequenos ou maiores do que os meus dois pequenos braços possam suportar.
De vez em quando eu pergunto pra vida, porque me fez tão intensa, tão enlouquecida, tão fiel aos meus princípios, tão sincera. Raramente eu obtenho resposta. Mas aprendi uma coisa, que estar atento aos sinais é de extrema importância. Qualquer sinal, seja ele bom ou ruim. Esse foi o sinal. Sinal de que não preciso pedir permissão a ninguém, hoje sou eu mesma e venho mais forte do que nunca.
"I have wished for so long
How i wish for you today"
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