"Numa noite qualquer, em que o verão começava a
despontar forte e as chuvas ficavam cada vez mais intensas, a campainha tocou.
Estava sozinha e achei que algum dos meninos tinham esquecido a chave. Quando
abri a porta dei de cara com Matthew, um pouco molhado da chuva.
‘Matthew?’ – lhe falei já sorrindo
‘Posso entrar?’ – ele parecia apreensivo
‘Sim, claro’
Matthew passou por mim, sem me cumprimentar, mesmo
eu louca de vontade de pular em seu pescoço e lhe beijar de tanta felicidade de
vê-lo novamente depois de tantos meses.
‘Está chovendo forte, não?’ – falei meio sem
assunto
‘É, parece que hoje é a chuva mais forte do ano, ouvi
no rádio enquanto vinha pra cá’
‘Deve ser por causa do verão’
‘É, deve ser’
‘Você está bem? Como foi a turnê? A viagem?’
‘Foi tudo bem. Estou cansado. Posso fumar aqui?’
‘Claro, devo ter um cinzeiro, vou buscar ali na
cozinha. Sente, quer alguma coisa?’ – fui me encaminhando até a cozinha,
nervosa
‘Não’
Quando voltei, Matthew olhava pro chão. Sua
expressão era diferente, nunca tinha o visto daquela maneira, apreensivo,
preocupado com algo que eu nem imaginaria o que era.
‘Está tudo bem?’
‘Acho que a gente não pode mais ficar junto’
‘Como?’ – meu coração disparou, minhas pernas
arquearam por uns segundos
‘Liza grávida, quase pra ter a criança e bem, isso
vai tomar um pouco do meu tempo e quando a criança nascer, ela vai passar uns
tempos em casa e vou ter que me dividir e não sei se estou preparado pra ter
outro relacionamento’ – Matthew nem parecia tão coeso e nem sabia porque ele
falava daquela maneira comigo, como se eu tivesse lhe cobrado algo
‘Matthew, olha...’ – eu nem conseguia falar, não
acreditava no que saia de sua boca
‘Talvez você precise de alguém que te dedique tempo
e atenção e eu não vou ser esse cara, não agora...’ – aquilo ia me deixando
mais nervosa, mais surpresa
‘Mas, eu não sei do que você está falando...eu te
disse alguma coisa que te incomodou, ou te cobrei de algo sem saber?’ – eu
sabia que não, mas eu era ingênua e não estava entendendo onde ele queria
chegar com aquela conversa
‘Não. Mas a gente não pode ficar junto, eu não
posso ficar com você’ – as lágrimas queriam escorrer do meu rosto, eu só queria
ficar com ele, não lhe cobrei nada, me indignavam aquelas palavras
‘Matthew, eu não sei do que você está falando.
Eu...’ – e ele se levantou tão rápido que quando eu percebi, estava sozinha
olhando pro mesmo sofá em que ele estava sentado – ‘Espera! Não vai’
Eu desci então as escadas correndo, queria falar
com ele, que precisava dele, queria contar tudo o que eu passei, queria que ele
ficasse comigo porque gostava de mim, não por pena. Quando sai pela porta a
chuva caía soberana, forte, espessa, pesada. E através dela, vi Matthew
atravessando a rua pra entrar no seu carro.
‘Matthew!’ – lhe gritei e ele continuou indo em
direção ao seu carro – ‘Matthew, não vá embora! Por favor! Eu preciso conversar
com você, te contar sobre mim. Me desculpe se te dei a entender algo
diferente...’ - e consegui segurar seu
braço, quase ele entrando no carro
‘Alice, eu preciso ir...’ – ele soltou seu braço da
minha mão e entrou no carro, ligando ele depressa
‘Matthew, espera! Não vai embora! Eu te amo!’ –
falei alto, batendo minhas mãos em seu vidro, chorando feito criança – ‘Me
escuta, por favor, não vai embora! Eu te amo, eu vou enlouquecer, eu te amo...’
E ajoelhei no chão, as mãos no rosto. Eu chorava e
não sabia se o que caiam eram minhas lágrimas, se era a chuva ou se era o fim
do mundo. Eu tremia e não sabia se era de frio, de medo, de desejo ou de
desespero.
‘O que eu vou fazer sem você, meu Deus. Porque faz
isso comigo?’ – eu falava pra mim mesma. A porta do carro se abriu e Matthew me
levantou do chão
‘O que você disse, Alice?’
‘Que te amo, te amo desde a primeira vez que me
tocou. Não consigo te esquecer, não consigo tirar você de minha cabeça’ – e eu
continuava tremendo, mais ainda quando olhei seus olhos turquesa, o que eu
tinha a perder?
‘Você me deixa louco, pequena, mas não posso ter
uma relação agora...’ – Matthew me olhava com o mesmo desejo, se aproximando de
mim
‘Eu não ligo, eu não quero. Eu só quero poder ter
você comigo quando puder. Eu não me importo...’ – e toquei seu rosto"
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