Eram quatro e meia da manhã quando crusei a ponte Cruzeiro do Sul ontem. No som do carro a transmissão ao vivo da Spirit Of London. Marcelo de Sá detonava Addagio for Strings do Tiesto na orelha do povo e eu via as luzes correndo pelo céu da Marginal Tietê.
Não tinha visão mais linda. E não tinha nada mais perfeito naquela hora pra se ver. No mesmo instante, um arrepio correu por todo meu corpo, e não deu pra conter o grito de 'PUTA QUE O PARIU' que saiu da minha garganta.
Quem nunca dançou até as tantas da manhã não sabe a sensação de ver aquilo. Dava pra sentir a galera gritando pelo Anhembi. Era lindo demais. E naquele momento eu me arrependi de não estar lá dentro e de não sentir aquela chuva magistral que caia por toda a cidade.
Deu pra fechar os olhos e sentir o suor pingando pelo corpo se misturando com a chuva toda. Pura e única. Instantânea a visão que tive da sua pele de cetim, se enconstando na minha e percorrendo meu corpo junto na batida alucinante.
Enfiei o pé, acelerando o carro e abrindo os braços. Tem vida melhor que essa? Tem vida melhor sentindo tudo bater insistentemente pelo corpo? Acabou a prostração, a morte se espantou e tudo que era ruim foi embora.
Foi esse o presente que ganhei. A vida de volta. A pele de cetim. Sentir tudo novamente. Foi esse o presente que eu ganhei. Dar valor as pequenas coisas. A risada com os amigos. Os amigos. Os seus beijos molhados. As promessas escritas. O calor do seu corpo. O suor escorrendo pelos poros.
Foi esse o presente que ganhei. O meu mestrado. A minha luta diária na profissão. O valor que dou a mim mesma. O meu amor próprio. Chorar sem motivo e por todas as outras coisas que se passam comigo. Foi esse o presente que eu ganhei. Sentir-me completa. Segura. Inteira. Única.
Faltou só você ontem pele de cetim. Pra gente enlouquecer, pegar o rumo do Anhembi e dançar até o dia amanhecer, sentindo a chuva cair em cima da gente. Sentindo o seu beijo molhado. O seu inconfundível cheiro e o nosso constante desejo.
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