A vida me fez parar e voltar a aprender a respirar novamente. Estou engatinhando como um bebê. Horas me sinto capaz de voltar a ser eu mesma, hora me encolho e choro segurando as pernas até que elas cheguem ao meu nariz. Eu nunca pude acreditar que meu cérebro fosse brincar de me enganar e me pregar peças. Entre todas as coisas que já me incomodaram no mundo, perder a noção de mim mesma foi a mais humilhante delas. Cai de joelhos suplicando ajuda por tantas vezes nesses últimos 60 dias que já não dá mais pra contar nos dedos das mãos e muito menos dos pés. Eu estou tentado reaprender o que é ser livre, não ter medo, não prestar atenção em pequenos detalhes que fazem o meu corpo explodir em mil hormônios que alteram a minha consciência e que me fazem ser alguém que eu sequer conhecia. Eu quero resgatar algo dentro de mim, quero voltar a ser normal, mas entendi que o tempo é senhor de si mesmo e eu não posso pular o processo que ele me impôs com tanta maestria. Pra ser sincera eu nem sei o que estou reaprendendo na verdade. Mas já perdi o medo do banho, da madrugada e de andar pela casa. Às vezes até arrisco dar umas voltas no quintal e ver um sol fraco que se instalou com a chegada do inverno. Eu não vi o verão acabar, passei o outono presa praticamente inconsciente dos meus próprios atos e quando saio de casa por necessidade de ir ao médico ou de resolver os problemas referentes ao meu afastamento do serviço, o barulho dessa cidade parece mais ensurdecedor e as distâncias muito maiores do que elas são. O trânsito me causa palpitação e quando olho pelo retrovisor do passageiro onde me mantenho sentada vejo que os fios brancos tomaram conta da minha cabeça, até pinta-los se tornou uma tarefa tão árdua que eu simplesmente deixei lá no meu consciente pra me sentir mais confortável que 'tá na moda a transição capilar'. Eu vociferei, tive autopiedade e senti uma solidão tão extrema que perdeu tanto o controle e eu não senti nem vergonha de tudo isso que sempre abominei. Eu achava que me bastava, mas a verdade é que não me basto. E pela primeira vez em toda minha vida me vejo de joelhos pedindo a alguma força maior que não me deixe só para o que resta da minha existência. Eu estou reaprendendo a ser eu mesma e essa é a tarefa mais árdua que eu já enfrentei em toda minha vida.
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