Você faria 38 anos se estivesse entre nós. Ainda lembro a primeira vez que recebi uma carta sua. Foi em 1995. Eu tinha quinze anos e você dezesseis e a sua carta foi tão simpática que foi o primeiro amigo que eu fiz assim tão longe.
Eu respondi e assim ia crescendo nosso contato. Era uma ansiosidade pra receber uma carta a cada três dias. Eu respondia prontamente e não tinha preguiça de ir a pé até o correio pra colocar a resposta.
Trocávamos posters, presentes de aniversário, confidências e segredos que mais ninguém naquela idade adolescente poderia trocar. Depois trocamos telefonemas, fotos e mais confidências. Você foi a primeira pessoa que entendeu as minhas loucuras e nunca me julgou por elas.
Me lembro da última vez que nos falamos por telefone. Era Natal de 1997. Você tinha acabado de passar no vestibular da Federal do Para e eu ia começar no próximo ano o cursinho pra prestar Medicina. As cartas foram diminuindo, a vida foi começando a apertar pros dois lados. Até que um dia, o tempo e a falta de tato de nós dois, nos separou.
A primeira vez que eu vi Pearl Jam, me lembrei de você. Era a nossa banda mais em comum. Quando o Eddie pisou no palco e meu olho encheu de lágrimas a primeira coisa que me veio à cabeça foi: ‘Caramba, ele bem que poderia estar aqui’. Eu achava que você merecia aquele momento, por tantas confissões trocadas e tantas coisas que só a gente entendia que estava escrito naquelas letras que a gente procurava significado.
Aliás, eu aprendi a procurar significado nas coisas pra poder ter algo interessante pra falar. Eu sempre fui a esquisita, a quieta, a desajustada dos padrões, a gordinha da turma do colégio. E naquelas cartas eu queria ser a adolescente mais interessante do mundo. Talvez eu não fosse, mas tem coisas que a gente sente e é melhor deixar assim, guardada na memória boa.
Da última carta que recebi sua até hoje a vida tomou tantos rumos diferentes. No fim, não fiz medicina. Eu até passei nuns cursos pagosmas como você sabia eu não tinha grana pra pagar. Fui fazer Odontologia porque era gratuito e no fim, gastava uma grana todo semestre com material. Não vou dizer que eu era feliz porque não era. Mas depois de quinze anos que eu pisei na faculdade, de um mestrado e um doutorado eu finalmente me encontrei. Eu finalmente entendi o que é ser realizado profissionalmente.
Pessoalmente eu continuei a mesma desajustada que era como adolescente. A vida me fez sofrer por amores que não valiam a pena e por outros que eu nunca tive a chance de provar. Talvez a vida de todo mundo é assim. O que eu aprendi é que ser feliz depende de mim. Nada que alguém diga ou faça vai mudar essa condição.
A música ainda é algo que me provoca as mesmas sensações que me provocavam lá em 1995. Me faz sentir com 15 anos de novo e felizmente, apesar dos pesares, me dá uma nostalgia boa. Então toda vez que eu posso e meu dinheiro aguenta eu sigo as bandas que gosto. Afinal, o que a gente leva dessa vida?
Aliás, eu me pergunto. O que você levou dessa vida? Faz oito anos que você me deixou por aqui sem nenhuma notícia. Pra dizer a verdade quando eu recebi a notícia que você tinha partido, meu mundo desabou por completo.
Quantas vezes não quis te contar tudo o que disse aí, de uma maneira não tão resumida, claro e não fiz? Quantas vezes não quis te contatar e não tive coragem? Quantas vezes não quis te contar segredos e não sabia mais como fazê-lo? Quantas vezes não fui negligente com a nossa amizade e nunca mais te procurei por nenhuma maldita rede social? Por que eu era muito ocupada, talvez? Ou por que eu realmente não me preocupei que nada de ruim pudesse acontecer com quem me rodeasse e demonstrasse afeto a mim? Será que meu orgulho era tanto que eu não podia tirar dez minutos do meu tempo pra saber como você estava?
Vinte e dois anos se passaram da primeira vez que nos comunicamos e eu ainda guardo as cartas emboloradas em uma caixa de sapatos. Poucas pessoas me entenderam como você. Poucas pessoas sabem dos meus medos e inseguranças como você sabia. E de onde você estiver eu quero que você saiba que por mais que o tempo passe, a gente não esquece alguém de quem gostou tanto como eu gostei de ti. Aquela amizade pra uma vida toda.
Feliz aniversário.
Eu respondi e assim ia crescendo nosso contato. Era uma ansiosidade pra receber uma carta a cada três dias. Eu respondia prontamente e não tinha preguiça de ir a pé até o correio pra colocar a resposta.
Trocávamos posters, presentes de aniversário, confidências e segredos que mais ninguém naquela idade adolescente poderia trocar. Depois trocamos telefonemas, fotos e mais confidências. Você foi a primeira pessoa que entendeu as minhas loucuras e nunca me julgou por elas.
Me lembro da última vez que nos falamos por telefone. Era Natal de 1997. Você tinha acabado de passar no vestibular da Federal do Para e eu ia começar no próximo ano o cursinho pra prestar Medicina. As cartas foram diminuindo, a vida foi começando a apertar pros dois lados. Até que um dia, o tempo e a falta de tato de nós dois, nos separou.
A primeira vez que eu vi Pearl Jam, me lembrei de você. Era a nossa banda mais em comum. Quando o Eddie pisou no palco e meu olho encheu de lágrimas a primeira coisa que me veio à cabeça foi: ‘Caramba, ele bem que poderia estar aqui’. Eu achava que você merecia aquele momento, por tantas confissões trocadas e tantas coisas que só a gente entendia que estava escrito naquelas letras que a gente procurava significado.
Aliás, eu aprendi a procurar significado nas coisas pra poder ter algo interessante pra falar. Eu sempre fui a esquisita, a quieta, a desajustada dos padrões, a gordinha da turma do colégio. E naquelas cartas eu queria ser a adolescente mais interessante do mundo. Talvez eu não fosse, mas tem coisas que a gente sente e é melhor deixar assim, guardada na memória boa.
Da última carta que recebi sua até hoje a vida tomou tantos rumos diferentes. No fim, não fiz medicina. Eu até passei nuns cursos pagosmas como você sabia eu não tinha grana pra pagar. Fui fazer Odontologia porque era gratuito e no fim, gastava uma grana todo semestre com material. Não vou dizer que eu era feliz porque não era. Mas depois de quinze anos que eu pisei na faculdade, de um mestrado e um doutorado eu finalmente me encontrei. Eu finalmente entendi o que é ser realizado profissionalmente.
Pessoalmente eu continuei a mesma desajustada que era como adolescente. A vida me fez sofrer por amores que não valiam a pena e por outros que eu nunca tive a chance de provar. Talvez a vida de todo mundo é assim. O que eu aprendi é que ser feliz depende de mim. Nada que alguém diga ou faça vai mudar essa condição.
A música ainda é algo que me provoca as mesmas sensações que me provocavam lá em 1995. Me faz sentir com 15 anos de novo e felizmente, apesar dos pesares, me dá uma nostalgia boa. Então toda vez que eu posso e meu dinheiro aguenta eu sigo as bandas que gosto. Afinal, o que a gente leva dessa vida?
Aliás, eu me pergunto. O que você levou dessa vida? Faz oito anos que você me deixou por aqui sem nenhuma notícia. Pra dizer a verdade quando eu recebi a notícia que você tinha partido, meu mundo desabou por completo.
Quantas vezes não quis te contar tudo o que disse aí, de uma maneira não tão resumida, claro e não fiz? Quantas vezes não quis te contatar e não tive coragem? Quantas vezes não quis te contar segredos e não sabia mais como fazê-lo? Quantas vezes não fui negligente com a nossa amizade e nunca mais te procurei por nenhuma maldita rede social? Por que eu era muito ocupada, talvez? Ou por que eu realmente não me preocupei que nada de ruim pudesse acontecer com quem me rodeasse e demonstrasse afeto a mim? Será que meu orgulho era tanto que eu não podia tirar dez minutos do meu tempo pra saber como você estava?
Vinte e dois anos se passaram da primeira vez que nos comunicamos e eu ainda guardo as cartas emboloradas em uma caixa de sapatos. Poucas pessoas me entenderam como você. Poucas pessoas sabem dos meus medos e inseguranças como você sabia. E de onde você estiver eu quero que você saiba que por mais que o tempo passe, a gente não esquece alguém de quem gostou tanto como eu gostei de ti. Aquela amizade pra uma vida toda.
Feliz aniversário.
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