Faz duas semanas que desci em Los Angeles com um único objetivo de ver uma banda e essa banda era uma das bandas mais importantes dos meus anos adolescentes. O maior desafio foi enfrentar uma cidade diferente e completamente sozinha, por quatro dias. Eu tinha uma sensação esquisita no estômago, como se eu fosse chegar lá e não fosse sair do quarto do hotel pra nada, a não ser pro show, se eu conseguisse ir pro show.
Mas assim que eu saí das duas horas da fila da imigração e sai carregando a minha mala até o transfer pra pegar o carro, o vento quente que batia em meus braços e o céu azul aberto ao sol, minha confiança simplesmente apareceu. Quando eu peguei o carro e me perdi pelas ruas de Los Angeles, eu fui parar em frente ao The Forum, onde seria exatamente o show da segunda feira. E lá estava ele, uma construção enorme no meio de um estacionamento ainda maior. Ali eu senti que tudo daria certo.
E eu andei de carro pelas ruas de Los Angeles como se eu tivesse em um local onde já havia estado há muito tempo, sem saber. E eu fiz praticamente tudo aquilo que eu queria fazer. Fiz compras, fui até Malibu, andei pelas ruas de Beverly Hills. Visitei os estúdios da Warner, vi os batmóveis mais incríveis, passei pela casa da Lorelai e sentei no sofá do Friends. Subi até o Hollywood Sign e andei pela calçada da fama. Até coloquei os meus pés em cima dos pés do John Travolta em frente ao Teatro Chinês (desculpem, mas eu amo o boneco do Ken). Descobri até que a Route 66 termina no pier de Santa Monica, onde eu fiquei uns vinte minutos olhando o Pacífico quebrar pela praia.
Los Angeles é linda e tem aquela cor alaranjada que eu sempre imaginei no final da tarde. Com certeza, finalmente em minha vida eu tive um momento só meu. E eu estava mais do que orgulhosa por tudo o que eu já tinha feito durante esses últimos três anos, essa foi a minha extravagância.
Quando na segunda à noite eu pisei no The Forum pra finalmente assistir o show, minha viagem não poderia ter terminado melhor. Pra coroar tudo, eu ia ver finalmente uma banda que eu tinha certeza que nunca veria na minha vida e quando a oportunidade surgiu, eu simplesmente abracei. Eu ia ver o Temple of the Dog.
Eu era só sorrisos quando sentei na minha cadeira de lado pro palco. E por mais duas horas eu esperei. E quando finalmente as luzes se apagaram eu simplesmente tinha ido pra outro lugar. Eu tinha 15 anos de novo. Quando o primeiro acorde de 'Say Hello to Heaven' surgiu eu fui transportada para um lugar de conforto que eu sempre tenho quando eu vejo uma banda de Seattle. E nas próximas duas horas e meia em que eu estive lá, minhas emoções foram de escorrer lágrimas a arrepiar todos os pelos do meu corpo. O som era perfeito, ouvir musicas do Mother Love Bone tocadas pelo Stone e pelo Jeff, era como se o próprio Andy estivesse ali, cantando majestosamente com sua maquiagem kabuki e os braços levantados, sorrindo para a plateia.
Será que a falta do Eddie foi tão importante assim? Eu acredito que foi um ponto positivo. Se o Eddie tivesse ido cantar umas músicas teria sido épico? Teria, mas não seria Temple of the Dog. Seria Pearl Jam com a participação do Chris. E aquele momento era dos meninos. A cozinha também tem que brilhar, aliás, se a cozinha não brilhar, a banda não vai pra frente. E os meninos tocam. A versão de 'War Pigs' foi fantástica e casou direitinho com a voz do Chris.
A única critica fica com a audiência. Agora eu entendo o amor do artista ao tocar pra uma platéia que responde. O que não foi o ponto alto da noite. Mas a memória de ver o Mike correr que nem um louco no palco, jogando suas palhetas pra platéia a todo momento, o Stone mostrando que é muito mais do que um guitarrista base e sim um líder, o Jeff sendo sempre tímido escondido atrás de todos, Matt com experiência numa bateria perfeita e o Chris falando efusivamente e ainda mandando muito bem nos vocais, mesmo não sendo mais o mesmo, a sua presença de quase dois metros de altura faz toda diferença.
O set list passeou não só pelo único disco todo da banda, mas como músicas do Mother Love Bone, Mad Season, Chris solo, Black Sabbath, Led Zeppelin e até de Sid Barret. Foi mágico. Daqueles momentos da vida em que eu olhei e disse "eu consegui".
Foi essa sensação que eu tive quando voltei pra São Paulo, eu tinha conseguido. E eu devia isso a adolescente que ainda reside em mim. Conseguimos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário