Gosto de ver seus olhos, nem que seja por alguns
minutos. Daquele jeito, através da parede, compenetrado, olhando para o nada,
pensando nas dores do mundo, com as mãos imóveis.
Pela janela transparente, posso enxergar as gotas
de chuva que caem e naturalmente você desvia o olhar e me pergunta se há todas
aquelas frases e lágrimas para expressarmos todas as nossas culpas e
ressentimentos. Não sei te responder, não sei dizer nada, só consigo estender
as mãos e segurar forte em seus dedos finos e compridos.
Sinto sua essência se desfazer aos olhos de outros,
mas por dentro encontro a mesma ternura que vi um dia. 'Se tudo fosse como as
pessoas querem, o mundo estaria mais caótico do que já é', você me diz. E olha mais uma vez compenetrado pela janela, segurando muito forte em minhas
mãos.
Tento te ouvir, mas a única coisa que consigo
perceber são as nuances de sua expressão e sua respiração mais calma e mais
ofegante, conforme sua própria vontade. Não quer me dizer nada e no silêncio
ainda se afunda em velhas convicções. 'Me empresta um pouco de sua vontade de
ser feliz?', você me pede e eu não consigo te dizer nada, tentado
demonstrar com os olhos palavras que não podem ser ditas.
Você se move inquieto da cadeira onde está sentado,
perdendo o fio dos pensamentos, com ar de desespero. 'Existe mesmo algo
além de tudo isso que conseguimos construir?', você me pergunta e só consigo
olhar, pedindo pela mesma resposta e você olha de novo a sua frente, sem que
mude a expressão de seus olhos.
Sinto que parece estar decepcionado com a minha
falta de respostas e da janela, onde olhava calmo as gotas de chuva caírem,
passa a olhar para o meu rosto, percebendo que apesar de meus poucos anos,
envelheci sem ao menos ter percebido. 'Por que deixas essa lágrima cair do
canto de teus olhos?', você me pergunta. Tento dizer algo, mas nada que eu
consiga dizer vai sanar o meu desespero por não conseguir me expressar.
'Não quero tuas respostas, sei todas elas, posso
ler seus pensamentos através de seus olhos, lembra-se?'. Me sorri aquele
sorriso inocente e bobo e seca minhas lágrimas calmamente. 'Você nos fez
complexos e no fundo somos simples e puros', você me diz, tentando tirar de
minhas mãos a responsabilidade pelos fracassos.
'Quando te vi pela primeira vez, pensei o quanto
poderia aprender e te ensinar, mas acho que preciso te deixar livre', você
me diz. "NÃO, NÃO VÁ!", eu peço desesperadamente e aperto muito
suas mãos, puxando seus braços em minha direção e tento mergulhar dentro de
sua alma.
'Vai ficar tudo bem, eu prometo. Vai ficar tudo
bem.', você me diz e eu te dou todas as respostas perdidas, dentro de palavras
que só nós compreendemos.
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