Eram nove e meia da noite a hora que consegui entrar no Via Funchal. Já tinha rodado o quarteirão três vezes até que consegui parar o carro em um beco, por trinta reais.
Subestimei as pessoas naquele dia. Pensei que em uma segunda-feira chuvosa como aquela e ao preço do show, poucas pessoas teriam ido prestigiar uma das bandas mais importanetes dos anos noventa.
A quantidade de pessoas na porta e a fila pra comprar ingresso me deixaram curiosa. Ou ninguém ainda tinha entrado ou aquilo não correspondia à minha expectativa.
Fui subindo as escadas, acompanhada de uma quantidade massiva de pessoas tão apressadas quanto eu. Mais impressionada ainda fiquei quando me deparei com a pista do local.
Se eu não estivesse só e não fosse tão pequena, com certeza não teria me infiltrado daquela maneira até a metade do caminho. Mas a metade do caminho já era suficiente. Metade do caminho de sorrisos e satisfações.
Tudo parece muito estranho quando a gente quer relatar, mas quando a gente está lá, ao vivo, o mundo parece se resumir a um momento mágico. Como se tudo estivesse em um portal em que você adentra pra esquecer a realidade lá de fora.
Quando o Michael Stipe entrou no palco, tudo parecia mais leve. Mais sem limites. Mais livre. E ele sorria ao longo do show. Demostrando que quando a gente faz aquilo que gosta nada importa. Muitas pessoas vão dizer que gostar do que se faz, como ele faz, é fácil. Eu penso o contrário.
Nem todas as pessoas sabem lidar com o que ele lida, brilhantemente. Sua importância é notória. tem amor, política, visão profunda sobre a vida, metafísica, banalidades. E nem todas as pessoas são capazes de processar todas essas informações. Nem todas as pessoas sabem de um pouco de tudo. Nem todas as pessoas querem saber.
Pra quê eu vou falar das músicas? É só vocês entrarem em qualquer site aí e vão ver o set list. Eu quero falar é do momento. Momento que não volta. Não volta ver ele cantando "Everybody Hurts". Nem "Orange Crush". Nem "Losing My Religion". Nem "Drive". Nem "Man On The Moon". E nem mais um monte de outras coisas perfeitas.
Ele gritava insistentemente enquanto sorria: 'ARE YOU HAVING FUN?'. Yep, we were having fun.
Nessas horas você não quer pensar em nada, não consegue pensar em nada, não pode pensar em nada. Eu só queria que aquele momento dureasse mais que o infinito. E mais nada poderia me atingir. Não ali dentro.
Saí de lá com a chuva caíndo sobre mim. Soberana. Espontânea. Caminhando pra onde minhas pernas iam.
A gente cresce, mas o que a gente aprende, fica eternamente. Quinze anos depois o R.E.M. continua importante, majestoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário