Fazia muito tempo que não parava pra cumprir suas promesssas...ela olhava para o papel e nada saia a não ser palavras esdrúxulas com sentidos perdidos...
Quando teria de novo o dia de se trancar no armário e rever seus conceitos?....antigamente era tudo tão mais fácil e rápido de se resolver...lá dentro daquele quarto tinha seus dias de glória e de sufoco...
A vida normal tinha tomado conta de suas idéias, e já não tinha mais tempo pra pensar se era legal ser louca ou se era normal ser normal...
As linhas do papel pareciam se mexer e a caneta sem tampa e de fundo roído parecia perder a tinta...tinha perdido o hábito....
Lembrou de suas antigas histórias e que tinha que botar o despetador pra tocar...viu suas roupas jogadas e lembrou que sua cômoda estava cinza de tanto pó...
Vou tomar um café, pensou depois de analizar que sua preguiça era maior de que seus afazeres...
Aos dezoito anos tinha sonhos que nunca se realizaram...aos vinte e um, tinha feito coisas que nunca sonhara...era do tipo tranqüila...suas forças não se esvaíam por pouca coisa...mas seus pensamentos não pertenciam ao seu corpo...
É preciso trocar as toalhas...e comprar feijão...e ligar para o encanador pois a pia da cozinha já não dá mais pra usar...
Usava o papel pra anotar seus afazeres....naquele ano ia começar a levar as coisas a sério, e tomar atitudes importantes...
Tinha que reclamar do salário e talvez procurar um novo emprego...
Já não existiam mais grama verde e tardes perdidas olhando pro céu azul...agora tinha um escritório e luz fria, com janelas fechadas e um ar condicionado barulhento pra poder afastar o calor...
Tinha que fazer suas unhas e lavar seus cabelos...olhou mais uma vez para o papel...e deixou uma lágrima cair...envelhecera, e se esqueceu das vontades mais puras...
O que ainda fazia naquele lugar e porque aquelas paredes estavam tão amarelas...acostumou com a segurança das suas medíocridades...não falava mais de política, nem ouvia mais seus álbuns favoritos....
Onde estaria aquele rapaz, o que estaria fazendo nesse momento...será que teremos aquilo que esperamos por muito tempo, ou a vida será todo esse pouco que compartilhamos com nós mesmos...
Fechou o caderno e foi lavar seus cabelos, certa de que a vida lhe traria de volta à sua realidade...
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