Quinta feira, 15 de maio de 2003.
Após dois meses com o ingresso na mão, finalmente eu ia poder presenciar após seis anos e sete meses, a minha primeira banda vista ao vivo: o Silverchair.
Como assim, mas eles nem são a sua banda favorita?!?
Mas tem todo um contexto psicológico deles terem sido meu primeiro show, back in '96 e a menininha de 16 anos resolveu aparecer, cheia de sonhos que estavam lá quietinhos....
Não vou comentar sobre isso, porque dá matéria pra mais quinhetos posts....
O show era o centro das atenções....e por obra do destino, justo aquele dia, eu não tinha acordado bem....uma sensação esquisita que me bateu....uma má impressão, um pulo assustado na cama, na madrugada, tantas outras teorias....
Eu tinha um show, tava apreensiva com o dia, e ansiosa, e feliz, e confusa....e ainda tinha que ir de trem, andar pela marginal, tinha mil coisas pra resolver na faculdade e tava sem saco, queria pensar, criar expectativas, ver aquela garotinha lá sorrir....
Nada me ajudava....sei lá se era a meu frio na barriga a cada cinco segundos ou se era minhas sensações estranhas sobre a vida...
Bateu as seis horas....e era hora....era hora de começar a ir....era hora de começar a me preparar....e deixar com que ela viesse a superfície, mais groupie do que nunca....mais louca do que nunca....mas tinha eu lá, e eu precisava me conter, porque as coisas eram diferentes...e tudo deveria ser mágico pra ela, e real demais pra mim....
E eu lá, com meus pensamentos longe, quando piso e vejo aquela multidão, parece que tudo se transforma numa atmosfera irreal de Matrix.....
Aquilo era um pedaço da minha vida, e o que importa não é a banda em si....são todas as sensações que ela pode me trazer....é a maldita música que toma forma, que recria, cresce, revira e abre asas como uma fênix....ela sim importa mais que tudo....aqueles pedacinhos de parte da minha trilha sonora da vida que é jogada na minha cara, sem ao mesmo que eu tenha tempo hábil para me defender...
E pra quê me defender?!?....abaixo a guarda e deixo tudo me atingir, porque a merda deveria ser jogada no ventilador há muito tempo....
Entrou lá os Detonautas....já tinha ouvido algumas coisas....não era algo memorável, mas a versão pra "Senhor da Guerra" me arregaçou....gosto da Legião...mesmo....e eles receberam prêmios e tudo foi uma festa e é legal ver reponsividade....
Uma hora de atraso....mas nada importava....eu sabia que ele iria escarrar coisas na minha cara, coisas que eu deveria ouvir....
Musicalmente falando, o Silverchair cresceu.....cresceu porque as músicas não são mais "Tomorrow" (dessa a menininha sentiu falta), nem usam mais calças jeans e camisetas brancas....eles usam ternos e roupas de grifes exclusivas, como todo presado rock star (do it yourself, my ass!), e guitarras de renome, e já pensam duas vezes antes de quebrarem instrumentos e amplificadores....
E quem se importa?....o disco que deveria ser promovido, foi muito bem promovido obrigada, ora com refrões grudentos, ora com letras complexas.....
A menininha de 16 anos, queria ouvir música velha, caralho, afinal, ela também não usava mais calça preta nem camiseta....ela tava diferente, do jeito que ela ainda tenta ser....sabia pelo menos músicas de mais três discos e inevitávelmente queria pular, gritar, chorar e fazer escândalo, como toda boa groupie....
Ah, e foda-se todo o convencionalismo, porque lá, lá naquela hora, deu vontade de pasmar, e ver a grande semelhança entre eles e suas influências....ah, o '90's...e querer ver as influências, porque acho que depois de anos de devoção, eu mereço!
Não eram as referências...eram eles, a minha primeira banda ao vivo, e por aquele dia tenho lembranças que nunca quero esquecer....
Sim, as músicas velhas fizeram minha noite....tinha "Emotion Sickness" e "Freak" e "The Door" e apesar d'eu não gostar muito delas, ele arrancou minhas pernas na "Ana's Song" e na "Miss You Love"....e tinha também um piano de calda, que ele tocou, depois subiu e depois arrancou a roupa....
Tinha o Diorama, e tinha jeito de Kurt.....tinha guitarra com adesivo do Fugazzi e tinha ele subindo nos amplificadores e quebrando guitarra....
Tinha um baixo e uma bateria em harmonia....tinha uma bandeira do Brasil jogada no palco, e um inglês australiano péssimo de entender....
"I fell in love with people sleeping.."
Não tinha nem "Tomorrow", nem "Israel's Son", nem "Pure Massacre" nem covers do Black Sabbath.....e a menininha sentiu falta....mas tinha pedaços e memórias e a certeza de que nada é igual, nunca....ainda bem...
Texto originalmente publicado no Perfectly Sane
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